sábado, 29 de agosto de 2020

A suprema epidemia ✰ Artigo de Augusto Nunes

Conviver com Gilmar Mendes faz mal à cabeça

Se ainda fossem garotos, e morassem em casas próximas, os marmanjos hoje instalados no Supremo Tribunal Federal não escapariam do conselho repetido por mães, tias e avós: "Não ande com aquele menino dos Mendes. Não é boa companhia". Como todos já passaram da meia-idade, agora é tarde para avisar que a convivência contagiosa com Gilmar Mendes deixa a cabeça muito pior.
Dias Toffoli e Alexandre de Moraes viraram discípulos dele desde a chegada ao STF. Toffoli passou a acreditar que "não haveria combate à corrupção se não fosse este Supremo". Moraes resolveu aplicar a pena de morte a tudo que lhe pareça mentira. O decano Celso de Mello só recentemente virou amigo de infância de Gilmar. Já enxerga no Brasil a versão tropical da Alemanha nazista.
Ricardo Lewandowski sempre foi mais prático: pergunta a Gilmar como deve votar — e obedece. Duas ou três trocas de ideias com o Maritaca de Diamantino bastaram para que Luís Roberto Barroso afirmasse em inglês que o STF deve impedir que a democracia se renda ao ditador Jair Bolsonaro. E dois ou três jantares com o superjuiz convenceram Cármen Lúcia de que o país está submetido a um desgoverno.
O mentor dessa turma toda tem o dom da onipresença. Num mesmo dia, ajuda Celso de Mello a decretar a demissão de Bolsonaro, prepara com Lewandowski a anulação das condenações de Lula e examina com Moraes a melhor maneira de burlar a Constituição para manter Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre no comando do Congresso.
A epidemia que devasta o STF se espalha com menos velocidade que a pandemia de coronavírus. Mas parece não ter cura.
Augusto Nunes - Jornalista

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