Novo porta-aviões HMS Queen Elizabeth vai cruzar águas contestadas por Pequim em maio
A pressão do Ocidente sobre a emergente China acaba de ganhar um reforço: o mais recente porta-aviões do Reino Unido fará sua viagem operacional de estreia pelas águas disputadas por Pequim no Indo-Pacífico.
Será o maior deslocamento internacional da Marinha Real desde a Guerra das Malvinas (1982), quando uma frota expedicionária cruzou o Atlântico para expulsar os invasores argentinos das Falklands, nome em inglês das ilhas.
O HMS Queen Elizabeth é o mais poderoso navio de seu tipo fora da Marinha dos Estados Unidos, que opera 11 gigantes de propulsão nuclear em suas patrulhas ao redor do globo.
Em maio, após um exercício na costa da Escócia, o porta-aviões comandará um grupo de ataque composto por mais seis navios —toda a Marinha britânica tem 21 embarcações principais de superfície. Um submarino acompanhará a formação.
A bordo, oito caças de quinta geração F-35B britânicos e dez do mesmo modelo de um destacamento do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, além de 14 helicópteros.
No seu caminho, fará paradas em Índia, Singapura, Coreia do Sul e Japão. Com exceção da ambígua ilha-Estado, todos os países são aliados dos EUA ante a China.
A rota em si, passando por estreitos vitais para a economia chinesa e navegando por águas que Pequim chama de suas, no mar do Sul da China, já é um recado para a ditadura comunista.
Desde que Donald Trump disparou sua Guerra Fria 2.0 contra a China, aliados de Washington se veem pressionados a escolher lados. Com a ascensão de Joe Biden ao poder, mantendo a retórica agressiva contra os chineses, mas sem a ojeriza que seu antecessor causava, isso ficou mais fácil.
A Alemanha enviou neste mês uma fragata ao mar do Sul da China, por exemplo. Neste momento, há dois grupos de porta-aviões americanos na região, além de navios franceses e, obviamente, embarcações chinesas.
Com efeito, nas 28 semanas em que visitará 40 países, o grupo de ataque fará manobras com os quatro aliados do Quad (EUA, Austrália, Índia e Japão), clube que se antagoniza a interesses chineses no Indo-Pacífico.
O Reino Unido, um aliado militar mais próximo dos EUA do que outros países da Otan (aliança ocidental), tem seus próprios motivos na disputa. Dona de Hong Kong até 1997, Londres tem protestado veementemente contra a repressão chinesa à autonomia do território, em tese assegurada até 2047 por tratado.
Na prática, Pequim matou a oposição local e alterou regras de funcionamento eleitoral e de instituições. O território ainda é fortemente marcado pela presença britânica.
Além disso, a viagem é mais uma demonstração da intenção do premiê Boris Johnson de buscar elevar o perfil britânico no exterior com exibição de musculatura bélica, colocando foco no Indo-Pacífico.
Seu governo descartou a promessa de reduzir seu arsenal atômico, hoje em 195 ogivas, e elevou seu limite para 260 bombas. Seja como for, a presença de aviões americanos no novo navio também é sintomática de sua dependência de Washington.
O HMS Queen Elizabeth começou a ser construído em 2009, sendo entregue para a Marinha em 2017. Em testes desde então, agora está pronto para missões completas. O navio tem um irmão, o HMS Prince of Wales, entregue em 2019 e que deve estar operacional em 2023.
Ambos os projetos custaram mais de 6 bilhões de libras (R$ 45,3 bilhões se fosse tudo pago hoje), sendo os mais caros e de maior poder de fogo da história do país. Eles marcam a volta dos porta-aviões à Marinha do país, após dez anos.
O HMS Queen Elizabeth tem 280 metros, carrega 1.600 marinheiros e até 60 aeronaves, deslocando 65 mil toneladas com propulsão convencional. Só fica atrás dos mamutes nucleares americanos, que deslocam 100 mil toneladas.
Sem catapultas, ele opera caças de decolagem curta e vertical, os F-35B, que substituem os famosos Harrier. É reconhecível por suas duas ilhas de comando, que podem alternar funções em caso de uma delas ser danificada por ataques.
Em sua viagem inaugural, o grupo liderado pelo navio deverá fazer manobras no Mediterrâneo com o porta-aviões francês Charles de Gaulle, o único nuclear fora da frota americana, mas de menor tamanho: desloca 42,5 mil toneladas.
Há dúvidas se a provocação da turnê de estreia do HMS Queen Elizabeth incluirá uma passada pelo mar Negro, palco das tensões entre a Rússia e o Ocidente nas últimas semanas devido à concentração de tropas de Moscou nas fronteiras ucranianas.
Pelas regras vigentes, há restrição para a entrada de navios desse porte no mar, que precisam passar pelos estreitos turcos vindos do Mediterrâneo. Os russos anunciaram o fim da mobilização de estimados 100 mil homens na semana passada, mas a Ucrânia segue duvidando da ação. Já os EUA, que haviam desistido de mandar destróieres para o mar Negro no auge da crise, anunciaram nesta terça (27) que irão enviar um navio menor, da Guarda Costeira, para a região.
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