quarta-feira, 1 de julho de 2020

Nossos Heróis estão indo embora! ✰ Bagé se despede do último combatente da Força Expedicionária Brasileira

 
Documentário produzido em parceria entre o curso de Jornalismo da Urcamp e o 3º Batalhão Logístico (3º BLog)

João Francisco da Silva, de 96 anos, morreu na noite de domingo (28), no Hospital da Guarnição de Bagé (HGuBa). Ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), o 2° Tenente lutava contra um câncer de próstata. O Exército emitiu nota oficial, salientando que o último dos 33 bajeenses integrantes da FEB, na Segunda Guerra Mundial, ‘deixará saudades, por sua presença constante, nos palanques das formaturas desta Brigada de Cavalaria’.
Silva era viúvo e deixa sete filhos. O velório aconteceu na Capela do Hospital de Guarnição de Bagé (HGuBa) durante toda manhã e o sepultamento foi às 11h, no cemitério dos Azevedos, em Bagé. Também na manhã de segunda-feira, antes de seu sepultamento, o “pracinha” recebeu homenagens da comunidade e um cortejo de veículos, que acompanharam o carro que o levava para o sepultamento.
Segundo o livro “A Rainha da Fronteira – Fragmentos da História de Bagé”, de Cássio Lopes, Edgard Lopes, o”pracinha” tinha 20 anos, em 1944, quando servia no 12° Regimento de Cavalaria de Bagé, atual 3° Batalhão Logístico, e resolveu ser voluntário para integrar a FEB. “O militar viajou de trem até a cidade de Rio Grande e de lá foi de navio para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por três meses em treinamento. Ao fim da preparação, o então soldado João Francisco embarcou para a Itália, aportando em Nápoles, após 15 dias de viagem. Ele foi voluntário e falou para a família, em casa, para a mãe e irmãs, dizendo que tinha sido convocado pelo time de soldados para jogar futebol em Rio Grande e no Rio de Janeiro. No entanto, o padrasto desconfiou da história que ele contou e o seguiu até a Estação Ferroviária de Bagé e percebeu o verdadeiro destino do enteado: a Segunda Guerra Mundial. Em território inimigo quando estava em Stafoli, foi designado para vigiar uma ponte que dava acesso ao acampamento brasileiro. E foi nesse momento que percebeu a aproximação de um italiano, de bicicleta, com uma caixa suspeita no bagageiro. Então, gritou e ordenou para que o indivíduo recuasse, mas este não obedeceu e somente com um tiro abateu o italiano, que trazia na caixa uma bomba capaz de mandar soldados e barracas pelos ares. Meses após com o final da Guerra, após retornar para o Brasil com o sentimento de dever cumprido, trazendo cicatrizes na mão esquerda e no rosto, oriundas dos estilhaços da explosão de uma granada, e o orgulho de ter fincado a bandeira brasileira em solo italiano, após a Tomada de Monte Castelo, em 21 de fevereiro de 1945. Chegando a Bagé, surpreendeu a todos, pois muitos achavam que tivesse morrido. Após, desempenhou por anos várias atividades rurais e urbanas para ganhar a vida, até que o Major Murilo Budó mandou um ofício para o Presidente Costa e Silva, solicitando sua nomeação para o Hospital Militar de Bagé, no qual serviu por doze anos. No entanto, somente trinta anos após o término da Guerra, saiu sua promoção, inicialmente como primeiro sargento e, depois, durante o governo de Fernando Collor, de segundo tenente. Dos trinta e três “pracinhas” bajeenses que retornaram da Segunda Guerra Mundial, ele era o último vivo”, menciona a obra.
História Militar
Ao longo da segunda-feira (29), quando o “pracinha” foi sepultado, também se comemorava, na história, 76 anos de quando os combatentes da FEB partiam para a Segunda Guerra Mundial. Segundo reportagem da revista Aventuras da História, no ano de 1944, um trem com numerosos vagões entrava na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Soldados e oficiais que acompanham a chegada tinham a impressão de que seu avanço pelo interior do quartel jamais terminaria.
“Nesse dia, 29 de junho de 1944, milhares de homens tomarão seus lugares no interior da composição para dar início à viagem que os levará para a guerra. Um ano e meio de treinamentos e preparativos terminava ali”, retratou a publicação. Ao contrário do que muitos esperavam, diz a reportagem, o Exército brasileiro havia sido capaz de formar uma divisão para representar o País na guerra mundial contra o nazi-fascismo, que já durava quase cinco anos. Conhecida como Força Expedicionária Brasileira (FEB), a divisão havia sido subdividida em três regimentos de infantaria – o 1º do Rio de Janeiro, o 6º de Caçapava, São Paulo, e o 11º de São João del-Rei, Minas Gerais. “No total, era uma força composta por mais de 25 mil pessoas”, menciona o texto ao apontar que ‘para muitos, aquele 29 de junho representava apenas mais um exercício’. “Dos três regimentos, apenas o 6º cruzaria a cidade do Rio de Janeiro, completamente às escuras em função de um planejado blecaute, em direção ao cais. Os demais regimentos seriam levados para outros locais com o objetivo de confundir os informantes. Também por questões de segurança, o embarque deu-se somente à noite, o que fez com que o processo todo demorasse três dias”, conclui.
Destino desconhecido
Na manhã de 2 de julho, o navio norte-americano General Mann partia sem que a maioria de seus passageiros soubesse exatamente o que estava acontecendo. Muitos dos pracinhas, como eram conhecidos os soldados brasileiros, apostavam que o destino final seria o norte da África e acreditavam que jamais entrariam em combate. Durante longos 13 dias, eles entregaram-se a uma rotina que consistia em tomar um lugar na fila do refeitório, fazer exercícios de salvamento em caso de ataque e voltar para os dormitórios.
Cada compartimento do navio abrigava até 400 homens e sempre havia um oficial armado na entrada. Sua missão era trancar a porta, caso aquela seção fosse torpedeada, não importando quantos homens houvesse ali dentro. O essencial era salvar o navio e o máximo de passageiros possível.
A monotonia da viagem só foi quebrada quando o Monte Vesúvio, dominando a paisagem da Baía de Nápoles, pôde ser avistado pelos integrantes daquele que seria o primeiro dos cinco escalões da FEB. O mistério havia acabado. Os pracinhas estavam na Itália. E para combater num inferno gelado.
Honraria
Em fevereiro deste ano, em cerimônia de comemoração aos 75 anos da Tomada de Monte Castelo, batalha travada ao final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas e as forças do Exército Alemão, que tentavam conter o avanço no norte da Itália, João Francisco da Silva recebeu a Boina Preta (símbolo do combatente blindado).
A batalha de Monte Castelo foi travada entre novembro de 1944 e fevereiro de 1945, marcando a presença da FEB na guerra, com a tomada da elevação, que possuía grande importância tática por permitir o avanço das tropas em direção à Alemanha. O bajeense combateu nesse confronto, que teve, como saldo, 478 soldados mortos e 27 inimigos alemães aprisionados.

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