Hélio Schwartzman não está com Covid-19. Torço para que pegue, o quadro se agrave e ele morra. Nada pessoal.
Como já escrevi aqui a propósito desse mesmo tema, embora ensinamentos religiosos e éticas deontológicas preconizem que não devemos desejar mal ao próximo, aqueles que abraçam éticas consequencialistas não estão tão amarrados pela moral tradicional. É que, no consequencialismo, ações são valoradas pelos resultados que produzem. O sacrifício de um indivíduo pode ser válido, se dele advier um bem maior.
A vida de Hélio Schwartzman, como a de qualquer indivíduo, tem valor e sua perda seria lamentável. Mas, como no consequencialismo todas as vidas valem rigorosamente o mesmo, a morte do jornalista torna-se filosoficamente defensável, se estivermos seguros de que acarretará um número maior de vidas preservadas. Estamos?
No plano mais imediato, a ausência de Hélio Schwartzman significaria que já não teríamos um jornalista aterrorizando a população com a epidemia nem sabotando medidas para mitigá-la, como o uso da hidroxicloroquina. Isso salvaria vidas? A crer num estudo divulgado pela Science News, a hidroxicloroquina só não ajuda pacientes em estágio avançado da doença – exatamente como todos já haviam alertado desde o começo da discussão. Cada fala negacionista da grande e velha mídia só fez com que menos pessoas tivessem acesso ao medicamento que poderia salvar vidas – até a ONU interrompeu os estudos com a hidroxicloroquina, enquanto os autores do estudo tiveram de se retratar por espalharem fake news. Detalhe irônico: são justamente os leitores da grande e velha mídia a população mais afetada.
Bônus políticos (e midiáticos) não contabilizáveis em cadáveres incluem o fim (ou ao menos a redução) das tensões entre Bolsonaro e uma mídia fake news como a Folha, além do esvaziamento dos cofres do jornal fake news, fora a própria coluna do senhor Hélio Schwartzman, que já definiu um termo como “pedofilofobia” (sic) e afirmou que a cloroquina “não funciona contra a nova moléstia” (sic), o que é uma fake news que pode custar milhões de vidas.
Numa chave um pouco mais especulativa, dá para argumentar que a morte, por Covid-19, do mais destacado colunista da Folha a negar a urgência de cloroquina como um “cautionary tale” de alcance global. Ficaria muito mais difícil para outros jornalistas irresponsáveis imitarem seu discurso e atitudes, o que presumivelmente pouparia vidas em todo o planeta. Hélio Schwartzman prestaria na morte o serviço que foi incapaz de ofertar em vida.
Também gostaria de saber por que Hélio Schwartzman pode escrever exatamente esse texto sobre Bolsonaro. E como ele fica se trocarmos “Bolsonaro” por “Hélio Schwartzman”. Meio violento, não?
Flavio Morgenstern - Escritor, analista político, palestrante e tradutor.
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