Estado é o segundo maior processador do cereal no Brasil. Parceria entre empresários e a Embrapa mostra bom desempenho também no campo
Uma viagem do empresário Alexandre Sales em 2018 à China serviu de inspiração para um projeto de plantio de trigo no ensolarado e seco Ceará que já colheu resultados que surpreenderam até o chefe-geral da Embrapa Trigo, Osvaldo Vasconcelos, que pesquisa a cultura há mais de 20 anos. O grão, principal cultura de inverno do Brasil, foi plantado em parceria com a Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora mundial de melão e melancia, e ficou pronto para colheita em tempo recorde, com uma produtividade de 5.300 kg por hectare, só perdendo para o colhido no Cerrado.
“Nunca imaginei colher trigo em apenas 75 dias. Isso é tempo de safra de feijão”, disse o pesquisador da Embrapa. Para comparar, na região sul, responsável pela produção de 85% do trigo nacional, a produtividade média é de 2.500 kg por hectare e a colheita ocorre entre 140 e 180 dias após o plantio. No Cerrado, nesse mesmo período, a produtividade média é de 5.500 kg por hectare, mas há plantios irrigados que chegam a 8.000 kg/ha.
A partir de junho, junto com a Agrícola Famosa e outros parceiros, Sales vai plantar trigo irrigado pelo terceiro ano consecutivo. Desta vez, a área de semeadura deve atingir 500 hectares distribuídos por Ceará, Maranhão e Piauí. Além disso, o grupo pretende experimentar o plantio de sequeiro na região do Apodi (Rio Grande do Norte) ainda este mês. Nos próximos três anos, o plano é chegar a 2.000 hectares só no Ceará.
O empresário, que é dono do moinho Santa Lúcia, em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza, disse que viu na China trigo plantado com sucesso em regiões de baixa altitude e clima seco. Considerando que o Ceará já se tornou referência na produção e exportação de frutas e de rosas, decidiu testar a semeadura em seu Estado, que é o segundo maior moedor e importador do produtor de trigo do país.
Procurou inicialmente a Embrapa, pela experiência da empresa em pesquisa e cultivares, e depois a Agrícola Famosa. A primeira experiência em 2019, em apenas meio hectare, serviu como aprendizagem. “A colheita foi rápida, mas a produtividade foi baixa, cerca de 3.800 kg por hectare”, conta Sales.
Em 2020, já ocupando cinco hectares de entressafra do melão da Agrícola Famosa, plantou três variedades, BR264 e BR404, ambas da Embrapa, e a Aton da empresa privada Biotrigo. O melhor resultado foi o da variedade 264. “As outras duas renderam até mais, 6.000 kg por hectare, mas o trigo só ficou pronto em 90 dias”, diz Sales.
Melão
Carlos Porro, CEO da Agrícola Famosa, diz que o trigo se adaptou bem ao ciclo da empresa, gerando receita numa época de entressafra do melão. “Temos que aproveitar que os grandes moinhos estão em nosso quintal. Além de usar a estrutura da empresa que ficaria parada na entressafra, ainda ganhamos com o melhoramento do solo após a colheita do trigo.”
Segundo Porro, a ideia é expandir a parceria, podendo chegar a uma área plantada nas terras da empresa, de até 2.000 hectares, sempre na entressafra. A Famosa tem 30 mil hectares no Rio Grande do Norte e Ceará, sendo 10 mil para a produção de melão.
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