segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Os novos "machos" do Rio Grande ✰ Artigo de Sérgio Alves de Oliveira

A imagem em grande parte “fake-news” que o gaúcho moderno conseguiu vender de si próprio, exportando-a para o mundo inteiro, de que seria um “baita macho”, herdeiro dos bravos farroupilhas, de 1835, oferecida ao turista tão logo pise no solo gaúcho, por intermédio do “marketing” de milhares Centros de Tradições Gaúchas - CTGs, que conseguiram fazer a fama do gaúcho pilchado “machão”, com bigode de mais de “metro”, fala grossa, guaiaca e facão na cintura, mais todos os ornamentos “gaudérios” cabíveis, num primeiro momento remete à imagem do lendário guerreiro “cossaco”, da Rússia.
Os “cossacos”, formados por um grupo étnico originário das estepes da Região Sudeste da Europa, a partir de colonos fugitivos de regimes políticos tirânicos da região, traduzida a sua imagem, o seu ”tipo”, o seu “estilo”, a sua bravura, no tradicional “brasão cossaco”, primeiramente se estabeleceram no interior da Rússia. Foram hábeis e corajosos guerreiros que passaram a interessar e depois a integrar o exército russo, nos Séculos 18 e 19, principalmente na “cavalaria”, tanto quanto foram hábeis guerreiros os “lanceiros negros” farroupilhas, na Revolução Farroupilha/Guerra dos Farrapos, de 1835 a 1845. Os cossacos formavam uma ala própria no exército russo, chegando a ter 150 mil componentes. São considerados fundadores da Ucrânia.
Após ter sido absorvida pela Rússia depois Revolução “Bolchevique”, de outubro de 1917, que depôs o Regime dos Czares, a Ucrânia recuperou a sua independência após o esfacelamento da União soviética (URSS), em 1991, satisfazendo o espírito altaneiro e independentista do povo cossaco, que havia fincado fundas raízes na Ucrânia. Mas infelizmente nos últimos anos está se reinstalando sobre a Ucrânia o “assédio” imperialista russo, que acabou não se conformando com essa “perda”, em 1991, objetivando recuperá-la aos seus domínios e bandeira.
São várias as semelhanças entre os povos cossaco, originalmente da Ucrânia, e o gaúcho, do Brasil. O primeiro foi independente até a sua Ucrânia ser absorvida pela União Soviética, logo após a Revolução de 1917, retomando a sua independência em 1991, com a dissolução soviética.
Portanto a última fase independentista da Ucrânia dura desde 1991, e hoje está completando 30 anos. Será que resistirá ao “assédio” russo?
O gaúcho, do Rio Grande do Sul, ”guerreou” contra o Império Brasileiro durante 10 anos (1835 a 1845), declarando a independência da “República Riograndense”, em 11 de setembro de 1836. Em seguida foi a vez de Santa Catarina ver declarada a sua independência “temporária”, também pelos farroupilhas, formando a “República Juliana”. Com a Convenção de Poncho Verde, de 1 de março de 1845, o Rio Grande do Sul foi reincorporado pelo “Império”. Portanto a “soberania”, a “autodeterminação”, a “independência” do Rio Grande do Sul, manteve-se durante 9 anos, contra 30 na Ucrânia, embora em tempos diferentes.
É claro que seria total perda de tempo suscitar esse problema perante uma “Justiça de 5ª categoria”. Mas se de fato estivéssemos frente a uma “justiça” verdadeira, e não frente de uma “Justiça” faz-de-conta”, a tal “Convenção de Poncho Verde” deveria ser declarada totalmente nula, não sujeita à prescrição, justamente pela sua nulidade absoluta, não produzindo efeitos válidos no mundo jurídico, pela simples razão de que não teria sido subscrita pela legítima representação legal da República Riograndense, e sim por pessoa desautorizada e sem poderes para tanto, o General David Canabarro, acusado por alguns historiadores de ter traído os interesses da Revolução Farroupilha/Guerra dos Farrapos. Por seu turno o representante do Império, Barão de Caxias, que assinou a dita Convenção, o fez devidamente autorizado pelo Império.
Mas a exemplo do que aconteceu com os cossacos da Ucrânia, também no Sul do Brasil se busca resgatar uma independência perdida. Em dois plebiscitos informais realizados na Região Sul do Brasil (PR, SC e RS), chamados “PLEBISUL”, em virtude de impedimentos da Justiça, os resultados favoráveis à independência do Sul ultrapassaram os 90% (noventa por cento). Nas forças independentistas da projetada UNIÃO SUL BRASILEIRA não havia um só político apoiando publicamente o movimento. E nem é de “surpreender”, por razões óbvias. Essa indesejável participação provavelmente “contaminaria” o movimento separatista.
Mas parece que as “coisas” estão mudando. Os governantes e políticos havidos como “machos” do Sul do Brasil jamais assumiram qualquer simpatia ao chamado movimento independentista.
Mas o atual Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem dado alguns sinais de que valoriza mais a sua terra do que o próprio Brasil, divergindo do clima governamental “patriótico” obcecado que se instalou em Brasília.
Mediante a política governamental de iluminar à noite com holofotes coloridos o prédio do Palácio Piratini, conforme o significado das cores de cada evento, os holofotes palacianos não foram acionados para homenagear o último “Dia da Pátria”, "7 de Setembro”, enquanto o foram, sim, para homenagear a data da “Pátria” Farroupilha, com as suas cores, o 20 de Setembro, e também para comemorar no seu dia a luta contra a LGTB (fobia), com as suas cores símbolo, do arco íris.
Porventura os “machos” gaúchos estariam sofrendo alguma transformação “genética” ou “psicológica”, abandonando a maneira de ser dos antigos farroupilhas?
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

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