Nos últimos meses, temos ouvido muito sobre o "novo normal". Nos surpreende, aliás, a facilidade com que algumas pessoas aceitaram, sem questionar, essa nova realidade. Confesso, porém, que pensando na nossa normalidade, também me surpreende o quanto aceitamos o "antigo normal".
Vivemos no 8º país mais rico do Planeta Terra, mas estamos em 144º lugar no ranking de liberdade econômica. Não por acaso, 25% da nossa população é dependente do assistencialismo governamental, através de um programa que não oferece porta de saída. Normal...
Estamos no 12º país mais violento do mundo. Nossas taxas de homicídio são maiores do que as da Colômbia, México e Guatemala. Mesmo assim, aceitamos pacificamente o desarmamento civil, deixamos a nossa segurança sob responsabilidade de um Estado comprovadamente incapaz e nem nos chocamos com os 60.000 assassinatos por ano. Normal...
Não confiamos nos nossos políticos. Pelo contrário. Consideramos a política algo abjeto e desencorajamos nossos conhecidos a entrar nela: "É coisa suja, pra safado". Mesmo assim, vivendo em uma democracia ativa, onde escolhemos nossos representantes a cada 4 anos, continuamos reelegendo os mesmos de sempre. "Não temos opção"! Normal...
Fomos testemunhas vivas do maior escândalo de corrupção já descoberto em um país democrático. Apesar das toneladas de provas, ainda temos que explicar, para alguns, o quanto isso é absurdo e ver membros desta facção criminosa ocupando cadeiras em praticamente todas as instâncias da República, fazendo política e ditando leis, como se fossem cidadãos modelo. Normal...
Aplaudimos um Ministro da Saúde, apoiado por toda a mídia partidária, dizer para que doentes ficassem em casa e, assim, causar milhares de mortes absolutamente evitáveis. Normal...
Assistimos um advogado do Primeiro Comando da Capital ser indicado como Juiz do Supremo Tribunal Federal. Vimos os senadores, que nós elegemos, sabatinando-o e aprovando-o para o mais alto cargo do judiciário nacional. Presenciamos, agora, os mesmos senadores mudos, enquanto a Suprema Corte ignora a Constituição, da qual deveria ser a guardiã, e faz manobras descaradamente ilegais para absolver um criminoso condenado e minar a governabilidade de um Presidente eleito. Normal...
No Brasil, onde é normal um deputado flagrado com dólar na cueca processar um cidadão por dizer que ele fez o que fez; um Senador da República mandar "nota de censura" para humorista, em nome do Senado "FEDEREL"; um ladrão sair da cadeia ovacionado e uma assassina dos genitores receber indulto de dia dos pais, não é estranho que aceitemos ter nossos empregos tomados e nossas liberdades tolhidas; que não só acatemos ordens estúpidas, como andar pela rua com um pedaço de pano amarrado na cara, mas também sirvamos de fiscais e denunciantes contra nossos vizinhos e amigos.
Precisamos, urgentemente, de um novo novo normal. Porque o novo normal é absurdo, mas o velho normal também é.
Felipe Fiamenghi
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