quinta-feira, 2 de julho de 2020

Muito além das aparências ✰ Artigo de Fábio Jacques

Encoleirado no sofá da sala, vendo o Coronavírus bater na minha janela querendo entrar, me atacar e me destroçar, ainda que esteja provado que a maior contaminação se dá entre aqueles que ficam enfurnados em suas casas, pouco me resta do que mergulhar em leituras estocadas e espairecer deliciando-me com reprises de velhos clássicos do cinema.
Numa destas maratonas cinéfilas, dei de cara com o antigo campeão de bilheteria de 1949, Sansão e Dalila protagonizado por Victor Mature e Hedy Lamarr.
Gosto sempre de me inteirar sobre quem foram as personalidades que outrora brilharam nas telonas, o que fizeram em suas vidas, como estão hoje ou até mesmo se ainda estão em nosso meio. No caso de Sansão e Dalila, ambos protagonistas já se despediram a tempos da peregrinação terrena.
Descobri em minhas pesquisas que Hedy Lamarr era o nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler, nascida em Viena, na Áustria em 9 de novembro de 1914, e falecida em 19 de janeiro de 2000 nos Estados Unidos em Altamonte Springs, Flórida.
De uma beleza deslumbrante, Hedy Lamarr foi considerada pelo diretor e produtor austríaco Max Reinhardt a mulher mais linda da Europa. Foi também a inspiração para Walt Disney desenhar o rosto da Branca de Neve, “a mais bela de todas” em 1937. Em 1933 protagonizou a primeira cena de orgasmo em um filme não pornográfico, Êxtase, o qual foi proibido em muitos países assim como pela própria Igreja Católica.
Enquanto perambulava em minhas pesquisas bibliográficas, tocou o meu celular e, ao apanhá-lo para atender à ligação senti perto de mim a própria Hedy Lamarr. Aquele maravilhoso aparelho que no meu isolamento anti-pandemia permitia que eu me comunicasse com qualquer lugar do globo terrestre eu devia a ela, Heidy Lamarr.
Além de consagrada atriz de beleza deslumbrante, ela foi uma excepcional inventora.
Muitas foram as suas invenções, mas a que mais se destacou e que demonstrou incontestavelmente a genialidade de sua mente criativa, foi aquela que, conjuntamente com o compositor e pianista George Antheil,criou o conceito de frequências variáveis.Avançado demais para a sua época,somente mais de meio século depoisfoi mundialmente reconhecido consagrando-a com justiça no rol dos grandes inventores mundiais. Toda a tecnologia atual da telefonia celular se baseia na invenção de Hedy Lamarr.
Em 1997 Lamarr recebeu do governo dos Estados Unidos menção honrosa “por abrir novos caminhos nas fronteiras da eletrônica”. É considerada mundialmente, com toda a justiça, a mãe do Wi-Fi.
O dia de seu nascimento é comemorado em todo o mundo como o dia do inventor. Em 2014 em Viena foi erigido um túmulo em sua homenagem ainda que suas cinzas tenham sido, a seu pedido, espalhadas pelos bosques de Viena.
Fico pensando em quantas vezes julgamos uma pessoa somente pela sua aparência. Quem diria, assistindo ao filme Sansão e Dalila que aquela garota petulante era, por trás das câmeras, um verdadeiro gênio da ciência?
Quantas pessoas trabalham conosco durante uma vida inteira sem que saibamos, um pouquinho que seja, quem que elas são na vida real?
Quantos músicos, poetas, atletas, líderes comunitários ou religiosos ou até mesmo abnegados voluntários junto a entidades sociais passam todos os dias ao nosso lado e nem sequer nos damos ao desplante de lhes desejar um bom dia?
É de nossa natureza centrarmo-nos em nós mesmos e isto faz com que percamos grande parte daquilo e daqueles que nos rodeiam. Quantas maravilhas e pessoas maravilhosas passam por nós todos os dias sem que ao menos nos apercebamos de sua existência.
Se queremos nos tornar mais felizes e plenos, procuremos descobrir as Hedy Lamarr que se escondem por detrás de rostos às vezes lindos, outras nem tanto. Mas elas estão ocultas ali, bem na nossa frente.
Cabe a nós estimulá-las a se revelarem. E, com certeza, poderemos ter surpresas extremamente gratificantes.
Fábio Freitas Jacques - Engenheiro e consultor empresarial

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