A esperança de que a pandemia vai trazer um mundo melhor, mais frugal, mais coletivo e justo é, sem dúvida, uma viagem de ácido que deu errado.
Estamos assistindo ao pior momento da humanidade.
As sequelas serão irreversíveis, pois há coisas que nunca esqueceremos.
Hoje temos ódio de um remédio. E ao termos ódio dele, criamos narrativas massacrantes, diárias, insuportáveis, de falsas certezas científicas e acabamos torcendo para que cada novo estudo corrobore nossa certeza de que um remédio NÃO FUNCIONA!
Estamos lendo relatos científicos com esperança de que NÃO FUNCIONE! É inacreditável!
Esquecemos que esse assédio moral impacta diretamente o dono da caneta, o dono do protocolo clínico, o médico que, honestamente, tenta fazer o melhor para seu paciente.
Ele [o médico] tem medo, receio, vergonha de assumir um protocolo que é tratado como coisa de idiota, de terraplanista e de genocida.
Atrapalhamos o trabalho dos outros e não ganhamos NADA. Isso será inesquecível.
Agora a moda é torcer contra a Suécia.
Um país que tomou uma decisão dura, de manter as liberdades individuais e acreditar no discernimento do seu cidadão, tem seus dados escrutinados para “encontrar o pior”.
E só para provar que “estamos certos”.
Queremos que a Suécia tenha mais mortes e que a economia desabe mais do que as outras, pois o que vale é a minha certeza mesquinha. Isso será inesquecível.
Inteligentinhos vociferavam contra a proibição de visitas nas cadeias para proteger os presos da COVID dizendo: “É desumano ficarem sem visitas!!!”
Os mesmos aplaudem a decisão da câmara de autorizar síndicos a proibirem visitas em nossas casas. Isso será inesquecível.
Quando alguns propuseram isolar pessoas vulneráveis (isolamento vertical) eu lembro da enorme violência e do assédio moral dos “jênios do certezismo científico” gritando em nossos ouvidos que era uma ideia imbecil.
Com violência gritaram que precisamos isolar a todos. Em que mundo essa gente vive?
Que mundo é esse em que não conseguimos isolar 25% da população, mas é possível fazer com 70%? Deu errado, e agora?
Aumente as restrições, multe, puna, prenda, cancele, assedie o cidadão.
Dos 15.000 mortos no Brasil, 12.800 são idosos ou do grupo de risco.
Não conseguimos proteger idosos em asilos, mas vamos ter sucesso isolando a todos?
E nós é que somos idiotas. Está dando errado, e agora? Digam gênios …Isso será inesquecível.
E esse discurso falso e hipócrita de “salvar a vida do outro”. Que outro?
O lixeiro, o entregador, o padeiro, o produtor rural são a guarnição armada que desce na Normandia todos os dias para servir as pessoas que acham que ficando em casa estão salvando os outros!
Estão salvando a própria pele e não têm coragem de assumir seu egoísmo travestido da mais hipócrita forma de altruísmo. Isso será inesquecível.
A classe média descolada da zona sul do Rio, antes toda preocupada com os pobres, desfila preconceito arrotando que os pobres que não conseguem ficar em casa são irresponsáveis, idiotas, egoístas, que vão sofrer a seleção natural.
Esse medo de morrer e de não ter atendimento em hospitais esse cara pobre vive todos os dias da vida dele. Empatia ZERO! Isso será inesquecível.
As redes sociais viraram grandes retratos de Dorian Gray. Só vejo semblantes apodrecidos, que acreditam ostentar uma cara limpa e moral.
Estou na categoria dos idiotas nas redes. Nunca me fez tão feliz ser considerado um idiota.
É muito mais fácil procurar o melhor de cada manchete, a esperança em cada estudo novo publicado, procurar narrativas que confortem a mim e a pessoas com quem compartilho ideias, do que ficar preso na obrigatoriedade da confirmação de que as pessoas vão morrer aos montes, que a economia será destruída e que as pessoas que não concordam comigo são idiotas.
Se você espera pelo recorde de mortes para jogar na cara do amigo otimista, se você procura artigos científicos que corroborem a sua “certeza” de que o remédio não funciona, para gritar no ouvido do seu amigo que ele é um idiota, se você torce para que os governadores imponham ainda mais restrições à nossa liberdade, você está agindo como uma pessoa genuinamente má. Isso será inesquecível.
Uma notícia boa, uma queda no número de mortes, um estudo com bons resultados ou uma boa lei econômica são contrários à sua narrativa e tornam sua vida insuportável.
O Brasil nunca mais será o mesmo. E não tem que ser mesmo.
Essa divisão vai ser importante e a melhor coisa que uma pessoa pode querer é ficar do lado dos idiotas, dos simplórios, dos humildes, pois o outro lado será insuportável … será o lado do desastre, da morte, do desemprego, da falta de empatia, da certeza arrogante e da hipocrisia do falso altruísta.
O futuro será selecionar amizades considerando o que as pessoas mostraram durante essa pandemia.
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