quarta-feira, 13 de maio de 2020

Os mensageiros da desgraça preferem esquecer Sete Lagoas ✰ Artigo de Augusto Nunes

Desde a chegada do vírus chinês, a cidade mineira não registrou uma única morte. 

Os jornalistas que enxergam no coronavírus um bem-vindo aliado na luta pela derrubada do presidente Jair Bolsonaro nem disfarçam a excitação a cada avanço da pandemia no país. A ultrapassagem de uma barreira numérica, o estabelecimento de um novo recorde negativo, a subida de um degrau no ranking dos países mais afetados — quanto pior é a notícia, maior é o entusiasmo dos setoristas de velório.
Como se fossem poucos os fatos desalentadores, os mensageiros da desgraça se esmeram na arte de transformar o ruim em péssimo. Uma apresentadora da Globo, por exemplo, celebrou o que lhe pareceu uma proeza e tanto: o total de mortos pela Covid-19 no Brasil acabara de superar a marca da Bélgica. Em casos assim, como sabem até bebês de colo, contas baseadas em números absolutos são traiçoeiros. Morreu-se mais no Brasil porque a população é muito maior do que a belga. A ciência e a sensatez recomendam medir o índice de óbitos por milhão de habitantes. Por esse critério, o vírus chinês foi muito mais letal na Bélgica do que no Brasil.
Se o noticiário é tão macabro por falta de notícia boa, ofereço várias — de graça. Sugestão de hoje: que tal revelar ao restante do país o que se passa em Sete Lagoas, cidade de 216 mil habitantes a 70 quilômetros de Belo Horizonte? Neste 8 de maio, a liberação de atividades comerciais incluiu restaurantes, bares e shoppings, o que ressuscitou a sexta-feira. A decisão foi aprovada pelo comitê de crise que reúne o prefeito e representantes da Câmara de Vereadores, do Ministério Público, do Judiciário, da Associação Comercial, da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Exército. O prefeito Duílio de Castro, que se recupera do coronavírus, participou em modo home-office.
Em parceria com duas universidades, a prefeitura instalou um laboratório apto a realizar diariamente 200 testes do tipo PCR, que apresenta o resultado em 48 horas. Em poucos dias, Sete Lagoas contará com 75 leitos de UTI. Desde o começo da pandemia, registraram-se 18 casos confirmados. E não houve um único óbito. Há pouco dias, a cidade onde ninguém morreu começou a voltar à vida normal. A informação foi ignorada pelos jornalistas que sonham anunciar na manchete que o mundo acabou.
Augusto Nunes - Jornalista

Nenhum comentário: