quarta-feira, 29 de abril de 2020

O celular de Joice Hasselmann precisa ser alvo de busca e apreensão imediatamente

Depois de todas as piadas, a séria realidade: o escândalo "Gabinete da Peppa" exige busca e apreensão de celulares e computadores de Joice Hasselmann pela Polícia com toda a urgência

Apesar de todas as piadas que foram feitas com o escândalo Joice Hasselmann, mais especificamente o dos perfis que ela mandou criar para atacar desafetos (como é a linguagem corrente do tipo de gente que é a própria deputada), incluindo “tias do Zap”(sic), o caso é gravíssimo. Sobretudo porque a bandeira desfraldada pela própria Joice no Congresso é acusar seus adversários de “atacarem-na” com dinheiro público.
É claro que esquerda e direita são razoavelmente unânimes em tirar sarro de Joice Hasselmann de graça, quase como respirar ou beber água. Foi Joice, afinal, que protagonizou um filme, pago com muito dinheiro por ela própria, com cenas que… bem, contando ninguém acredita.
O ponto é a esquisitice que é pensar que alguém precise receber dinheiro para tirar sarro disso. Pelo contrário, acho que boa parte da população pagaria para rir, se fosse obrigada a pagar um imposto pela reação involuntária da atuação de Joice.
Mas a deputada, conhecida nas redes sociais como Peppa Pig, teve um áudio vazado em que ordena a criação de perfis para atacarem a “milícia”, na ridícula novilíngua em voga no Brasil (se as pessoas discordam de você, é “ataque” e “milícia”; se você ordena a criação de perfis para xingá-las, é “criação de perfis”).
O escândalo ficou conhecido como #GabineteDaPeppa, o que foi confirmado pela própria deputada. A defesa da deputada saiu-se pior ainda: os dois perfis que ela cita como “oficiais” e “verdadeiros”, EquipeJH e VerdadeJH, na verdade, a retratam como a Miss Piggy, personagem dos Muppets, e a acusam de usar perfis falsos para espalhar fake news. Se Joice diz que estes perfis são “verdadeiros” e que os perfis que tinha ordenado criar eram estes, devemos então acreditar que Joice… estava usando perfis falsos para espalhar fake news.
 
Ou seja, a deputada se defendeu falando de contas que… ainda não haviam sido criadas. O que exige uma explicação bem mais séria do que as desculpas esfarrapadas até agora apresentadas. Ou, é claro, pode sempre alegar ser completamente retardada – não pega bem, mas nesse caso parece ser o único jeito de alegar inocência.
Para piorar, já é consabido desde pelo menos outubro de 2019 que Joice Hasselmann contratou a EG Consult com verba de gabinete para destilar ataques contra adversários, em grupos de WhatsApp como “Joice, eu apoio!”. Ataques a adversários são a tônica ali – e, mais uma vez, pela novilíngua, discordantes de Joice Hasselmann são “gabinete do ódio”, já os perfis que alimenta e a militância de Zap que paga com nosso dinheiro é “geração de materiais de ordem gráfica e multimídia, gerenciamento, atendimento e suporte aos usuários das plataformas de comunicação utilizadas pela deputada federal” (sic).
A defesa de Joice custa R$ 2.500 mensais do meu, do seu, do nosso dinheiro. E olhe que carinha fofa o Estadão usa para explicar que Joice “pede para ‘tias do zap’ criarem perfis verdadeiros” (sic).
Bem ao contrário do que diz o Estadão, quem precisa ter a Polícia Federal batendo à sua porta às 8 da manhã para exercer um mandado de busca e apreensão é a deputada Joice Hasselmann. Piadas inevitáveis à parte, isto não pode ser mero assunto de memes na internet. É motivo sobejante para cassação de mandato.
Se o inquérito inconstitucional do STF que Bolsonaro citou a Moro havia ensejado busca e apreensão de celulares, computadores e tablets nas casas de pessoas que ousassem fazer críticas ao STF, a musa da CPMI das Fake News tem de ter seu celular periciado pela Policia Federal para saber quais eram verdadeiramente os perfis que Joice havia ordenado criar. Para saber quem e como paga por seus ataques a desafetos. Para o povo brasileiro descobrir que “tias do Zap” são essas, que de repente caíram nas graças de Joice Hasselmann, que tanto critica “ataques”, mas que recebem ordens de uma politica.
E, caso se constate que Joice apagou qualquer mensagem, deve ser punida pelo artigo 305 do Código Penal – Decreto Lei 2848/40, que versa sobre a destruição de provas, prevendo pena de reclusão de um a cinco anos e multa.
É urgente. Deputados precisam exigir a Polícia Federal na casa de Joice. A base de apoio à deputada no PSL precisa retirá-la imediatamente da liderança do partido e do governo, e deve-se mesmo pensar em cassação do mandato por quebra de decoro.
Se a lei no Brasil vale para todos, investigar Joice Hasselmann é imperioso, urgente e revelador.
Flavio Morgenstern - escritor, analista político, palestrante e tradutor

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