Depois que caiu o Muro de Berlim, formou-se um consenso bastante amplo sobre a incompetência do sistema que o produziu, ficando meio esquecido o fato de que por trás dele ocorreram três incontestáveis sucessos.
Os dois primeiros se deram na conquista do espaço e no aparelhamento para uma guerra total, que a extinta URSS disputou, orelha com orelha, contra os poderosos Estados Unidos e seus aliados da OTAN. Esses dois casos positivos no conjunto da fracassada experiência comunista são uma evidência de algo muito importante para se compreender alguns fatos básicos da vida. Convém pensar sobre eles num país onde ainda há quem creia ser possível o progresso fora do livre mercado. Em ambos os casos - no preparo para a guerra e na conquista do espaço - havia corridas sendo disputadas. E sempre que há competição, surgem o esforço, a criatividade, o investimento e o desenvolvimento.
Na economia, investimento é a aposta que os agentes fazem sobre tais ou quais possibilidades, num cenário onde o jogo dos outros concorrentes é desconhecido. Ora, quando o estado é o único agente econômico, não há estímulo nem possibilidade de apostar e investir. No caso da URSS, como o espaço e as armas eram objeto de competição com outros países, surgiram ali aquelas condições que fazem a roda andar para frente. E ela andou, até que o restante da economia soviética parou, com aquela fatalidade das bombas associadas a um relógio. Suas vitórias sobre os norte-americanos – o primeiro satélite artificial, o primeiro satélite levando um ser vivo (a cadelinha Laika, que torrou no espaço 10 dias depois), o primeiro voo espacial tripulado, ficaram no registro de uma glória fugaz. O sistema era o próprio estado-bomba.
O terceiro caso de sucesso, comum a todas as sociedades de inspiração marxista é o mercado negro, de onde lhes vem o mínimo oxigênio necessário para que se mantenham respirando. O mercado negro, aliás, é o puro e simples mercado, dito negro por ser proibido, embora tolerado. Graças a ele muitos sobrevivem atendendo necessidades fundamentais da população. Vá a Cuba e veja.
São lições clássicas, que cotidianamente se repetem. E só se repetem para multiplicar o bem onde houver liberdade, proteção ao direito de propriedade, estabilidade jurídica e política e investimento naquela que é a principal riqueza de um país – seu povo. Por outro lado, os países desenvolvidos já aprenderam que transformar a pesquisa científica e tecnológica em objeto de generosidade compulsória é extinguir a criatividade e firmar contrato com o atraso. O discurso da inclusão tecnológica, no qual tudo é de todos ou de uso livre, acaba em muro. E, depois, leva meio século para acabar com o muro.
Faço estas observações para que aprendamos algo do empenho de laboratórios no desenvolvimento de uma vacina para a covid-19. É uma corrida contra o tempo, a demandar investimentos colossais para ver quem chega primeiro. Há um Prêmio Nobel à espera da equipe que romper a linha de chegada.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor
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