Esta semana que passou foi pródiga em decisões vindas lá do Planalto Central que nos envergonham.
Vergonha 1 – O novo fundo eleitoral aprovado pela Câmara, que é uma ofensa que a sociedade não pode aceitar. Pena que os “ilustres” parlamentares estejam homiziados em Brasília, o que impede uma manifestação mais robusta, corpo a corpo. Brasília é longe. Episódios como este me fazem vestir a carapuça de imbecil por ter votado no ano passado, muito embora não seja mais obrigado a fazê-lo, graças à minha barba branca. O resultado das urnas até que me deixou otimista pela renovação de cerca de 60% da Câmara. Esperava que os novos deputados pudessem evitar os frequentes abusos praticados pelo Congresso, que continua legislando em causa própria.
A Senadora Simone Tebet declarou: “não imaginava que descalabros como esse fossem mais acontecer no plenário”.
A deputada Tábata Amaral afirmou que “o fundo eleitoral é uma maldade”.
Circula na internet uma preciosa definição deste esbulho: “Fundo eleitoral é um dinheiro que será roubado de você para você eleger quem vai te roubar”.
Depois do fim do imposto sindical obrigatório, que gerou mais de 5.000 sindicatos Brasil afora, parece que o novo grande negócio que surgiu é ter um partido político. São 35 registrados atualmente mais 73 na fila de espera. Números bizarros para um país que pretende consolidar uma democracia. Afinal, a quem estes partidos realmente representam, além dos seus donos e caciques?
Vão dispor de bilhões de reais para as eleições municipais do ano que vem, dinheiro nosso que, entre outras barbaridades, poderá ser usado na compra e locação de bens imóveis e móveis. A Embraer já deve estar estimando quantos jatinhos vai vender e ajustando a sua produção para atender à demanda. E pasmem: a famigerada propaganda eleitoral voltou, para espanto de todos nós que pensávamos que ela estava sepultada em nome da saúde mental das famílias brasileiras.
Imaginem quanto os políticos vão querer para o pleito de 2022, mais importante porque abrange a presidência da república, os governos estaduais, os senadores e deputados federais.
O Presidente de República, que foi eleito com uma plataforma de combate à corrupção e aos privilégios, vetou só 14 artigos dessa excrescência, que a mesma senadora Simone Tebet classifica como “um retrocesso inimaginável”.
Vergonha 2 – A tal lei de abuso de autoridade, que foi aprovada rapidinho. Também rapidinho foram rejeitados quase todos os vetos do Presidente (18 de 35) numa evidente confirmação que o verdadeiro objetivo deste novo diploma legal é inibir os agentes da lei que investigam delitos praticados pelos ilustres cidadãos alojados na Praça dos Três Poderes. Ninguém quer ser vítima de abuso, é claro, mas à quisa de proteger a sociedade, buscam protegerem-se a si mesmos. Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro.
Vergonha 3 – O resultado da sessão de quinta-feira do STF, que formou maioria no julgamento que pode levar à anulação de dezenas de condenações da Lava Jato, como a de Lula. O tema logo virou assunto nas redes sociais. Um abaixo assinado sob o título “O STF sai e a Lava Jato fica” alcançou mais de 100 mil postagens em 5 minutos.
Importante lembrar o voto do Ministro Edson Fachin, que perguntou o óbvio: “Haveria abuso de poder ao não se cumprir regra legal que não existe?”
Seu voto foi vencido por 7 a 3, numa demonstração de que a maioria da casa aderiu ao lema “liberar geral” e à guerra impiedosa contra a Lava Jato, causas lideradas por Gilmar Mendes.
Há muitos anos, no meu laboratório de jornalista observador dos fatos políticos, isolei um vírus que batizei como “delenda intelligentia brasiliensis”. Para denominá-lo, vali-me dos poucos conhecimentos de latim que tinha aprendido para poder fazer vestibular de Direito. Eu ficava perplexo com a repentina mudança de atitude dos personagens que iriam residir na Capital Federal para assumir cargos no legislativo, no executivo ou no judiciário. Muitos desses personagens eram velhos conhecidos meus que se transformavam imediatamente tão logo chegavam ao Aeroporto Juscelino Kubitschek. Esqueciam subitamente a maioria dos princípios republicanos que os caracterizavam.
Parece que o vírus continua atacando, haja vista a repentina adesão à velha política dos novatos que colocamos no parlamento.
Tá ficando cada dia mais difícil ter orgulho de ser brasileiro.
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