sexta-feira, 22 de maio de 2020

O monstro e seus sócios ✰ Artigo de Guilherme Fiuza

Os que dizem que é pecado permitir que as sociedades funcionem responsavelmente 
são os mesmos que estão dizendo em silêncio o que Lula disse aos berros 

Luiz Inácio da Silva falou à nação: “Ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus”. Assim o ex-presidente comemorou a destruição do país provocada pela paralisia decorrente da epidemia. Segundo ele, o bem-vindo microrganismo infeccioso serviu para arruinar a economia — e isso é muito bom porque assim Paulo Guedes se ferra e ele pode dizer que eficaz era o parasitismo estatal do PT.
Não se sabe se foi a natureza que criou “esse monstro chamado coronavírus”. Mas com certeza foi ela que criou esse monstro chamado Lula — com a cumplicidade dos inocentes úteis que até hoje lhe dão voz. Esse monstro chamado Lula está condenado a mais de 20 anos de prisão por destruir o Brasil e atirar o povo na maior recessão de sua história sem a ajuda de doença nenhuma. Ou seja, uma praga que nem a OMS ousaria tipificar.
Lula saiu de seu lockdown particular na Polícia Federal por uma manobra vil do STF — que numa canetada transferiu o lockdown para o resto do país, dando poderes discricionários a governadores e prefeitos aloprados de todo o território nacional. O STF soltou Lula e prendeu o Brasil.
Mas tudo tem seu lado bom. Ao comemorar o surgimento do coronavírus, com uma desinibição que só ele tem, Lula deu voz a toda essa gente perfumada e agourenta cuja inconfessável torcida pela covid-19 tem estado confinada no armário.
O ex-presidente falou por muita gente. Lula é o libertador das cassandras.
Imagine como devem ter se sentido aqueles que inflamam as estatísticas virais ao ouvirem “ainda bem que a natureza criou esse monstro”. Identificação imediata e total.
Não sabe da inflamação nas estatísticas? Sabe sim. Só não está ligando o nome à pessoa. Um exemplo brando: enquanto Lula comemorava a covid, você lia as manchetes sobre mais de mil mortes pela epidemia em um único dia no Brasil. Sem querer estragar o clima de celebração, você poderia ter ido aos boletins oficiais e constatado que “em um único dia”, segundo o novo dicionário epidêmico, significa “em vários dias”. Traduzindo: das 1.179 mortes que as manchetes acharam por bem colocar num dia só, 225 haviam ocorrido “nos últimos três dias” — e as demais antes disso.
Que objetivo teria alguém cuja missão é informar ao confundir deliberadamente número de óbitos registrados em 24 horas (referente a vários dias) com número de óbitos ocorridos em 24 horas?
Será que esse pessoal está achando que a população precisa de um pouco mais de angústia? Ou será que para eles tanto faz quem morreu ou deixou de morrer, porque na manchete não vai aparecer a cara de ninguém mesmo — e número é tudo igual?
Infelizmente não foi a primeira vez que ocorreu esse lapso estatístico — na verdade foi a enésima. Se não estão reclamando, eles vão em frente.
E já que estamos aqui fazendo o serviço sujo — atrapalhando a celebração de Lula e suas cassandras — aproveitemos para assinalar: quase 20% de todos os óbitos por coronavírus no Brasil estão, oficialmente, “em investigação”. Nessa epidemia, as estatísticas estão repletas de “óbitos presumidos” — instituto favorecido em certos casos legalmente, como no decreto do governador de São Paulo, João Doria, permitindo atestar como possíveis covid-19 óbitos sem causa definida.
Vale assinalar também que essas estatísticas, bem como de infectados e internados, estão entre os critérios para distribuição das verbas de emergência, hoje objeto de investigação policial em vários Estados.
A forma mais eficaz de enfrentar a epidemia é conhecer a progressão dela com a máxima exatidão possível.
Mas se você buscar rigor estatístico será acusado de querer minimizar o problema. Aqueles que o acusarão são os mesmos que fazem licença poética com número de mortes. E que dizem que a única saída contra a morte é enfiar a população inteira em casa — onde estão hoje, segundo a própria OMS, as maiores frentes de contágio.
O Brasil precisa de uma devassa urgente nas estatísticas da epidemia. Isso é missão para a Polícia Federal em parceria com o Ministério da Saúde — de preferência, numa força-tarefa em que não haja ninguém dedicado a lustrar a própria biografia.
E você precisa entender: os que lhe dizem que é pecado permitir que as sociedades funcionem responsavelmente (com distanciamento, controle e isolamento de vulneráveis) são os mesmos que estão dizendo em silêncio o que Lula disse aos berros.
Guilherme Fiuza - Jornalista

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