Os governantes que fraquejam ao enfrentar grandes ameaças, enquanto responsáveis pelos destinos de um povo, serão inevitavelmente condenados e vilipendiados, não importa qual tenha sido a natureza – boa ou má – de suas motivações. Foi o que ficou provado, com chocante evidência, quando o secular prestígio da nação francesa, construído com bravura, rebeldia e altivez, ficou seriamente enxovalhado, em 1940, logo após o início da Segunda Guerra. Até a façanha revolucionária de 1789 e as gloriosas conquistas napoleônicas foram enlameadas pela humilhante rendição que submeteu a França ao domínio de Hitler, por longos e inapagáveis quatro anos. O histórico vexame agigantou-se diante da indômita coragem com que os ingleses resistiram, com “sangue, suor e lágrimas”, ao tremendo poderio da Luftwaffe, sozinhos, após ter a França rompido a aliança dos dois países contra o nazismo.
Então, o Marechal Pétain, chefe do governo rendido, alegou ter tomada a inglória decisão para preservar vidas humanas e a própria vitalidade da nação. Discute-se, até hoje, se ele teria agido de acordo com a maioria dos franceses, à época; mas, terminada a Guerra, suas razões foram rejeitadas e ele foi duplamente condenado: com uma sentença de morte, por traição à pátria, depois convertida em prisão perpétua; e, mais, com um indelével e também perpétuo registro de desonra, nos anais da história mundial.
Governantes de todo o mundo foram chamados a enfrentar a invasão do Covid19 e reagiram de diferentes formas, embora a todos coubesse a mesma responsabilidade de preservar vidas humanas e a vitalidade de seus países. Uns defendiam o assim chamado isolamento vertical, consistindo numa quarentena seletiva dos grupos de risco, a par de práticas defensivas a adotar individual e coletivamente. Não ignoravam a provável sobrecarga do sistema de saúde e inevitáveis perdas de vidas preciosas. Mas, entendiam que se tratava de um assalto a ser enfrentado e superado com coragem e determinação, tal como tantos povos fizeram, frente a epidemias, catástrofes naturais ou guerras artificiais.
Porém, a maioria dos governantes optou pela intervenção autoritária, com medidas drásticas de isolamento, dito horizontal, a fim de conseguir o “achatamento” da curva de contágio, alegadamente para ganhar tempo para o reforço da estrutura hospitalar e, assim, evitar o seu colapso. Decretaram quarentenas, impuseram “lock-downs” e conseguiram a proeza inédita de paralisar a economia mundial, espalhando medo entre o povo e dizimando empresas e empregos, aos milhões. Não perceberam ou desconsideraram o fato de que a vitalidade da nação envolve a preservação da vida e dos meios de existência da população, em larga escala, não só de imediato, mas também e principalmente, a longo prazo.
Terão agido certo? É cedo para dizer, mas o certo é que, cedo ou tarde, a história os julgará. Implacavelmente.
Dagoberto Lima Godoy - ex-presidente da Fiergs e presidente do Conselho Superior da CIC de Caxias do Sul RS
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