O lobo vermelho, coiote, saía todas as manhãs para fazer a sua caçada.
Depois de gastar as patas por longos anos atrás de algum animalejo desprevenido na paisagem desértica, descobriu que todos os dias um cordeiro ia beber água no pequeno riacho que teimava em se manter perene naquele ambiente infernal.
Tendo decorado bem o texto da fábula, postou-se em um confortável local correnteza acima e largou o papo morfético para cima do pequeno ser lanudo. Como o borreguinho não soube se defender, acabou passando desta para a melhor por ação das vorazes e famélicas mandíbulas da maquiavélica criatura lupina.
Na manhã seguinte, voltando como um criminoso ao local do crime, descobriu o lobo que outro cordeiro bebia tranquilamente como se nada tivesse acontecido. Como a encenação ainda estava viva em sua memória, repetiu o ato e devorou mais um cordeirinho.
Com o passar dos dias, o lobo foi descobrindo que sempre algum borreguinho iria beber água e deixou de caçar passando apenas a se dirigir diretamente ao riacho apanhar mais um desprevenido pet.
A facilidade levou o lobo a baixar a guarda, chegando até a adquirir um livro de receitas de pratos de carne ovina, indo do cordeiro no espeto ao espinhaço de ovelha com aipim. Sua vida virou um paraíso e pensou até mesmo em transferir sua toca para as margens do córrego a fim de não precisar gastar muita energia em sua caminhada.
Um certo dia, já bem cevado e preguiçoso, resolveu deixar para pegar o cordeiro numa hora mais propícia, à tardinha, quando o sol causticante do deserto já resvalava a se esconder atrás das dunas arenosas, evitando o calor e a ação dos nocivos raios ultravioletas. Achou que seria mais fácil e menos trabalhosa a tarefa de capturar sua ingênua presa em um ambiente com temperatura mais amena, e ao atacar o cordeiro, descobriu, e esta foi sua última descoberta, que o cordeiro não se encontrava ali. A quela era a hora da onça beber água.
Como por um passe de mágica, predador se transforma em presa e, pelo que se sabe, seu espírito perambula, até hoje, em abomináveis paragens infernais sendo permanentemente fustigado pelo demônio felino que o devorou em uma só bocada.
Pode até ser uma besteira esta fábula, mas tem um grande fundo de verdade.
Depois de décadas se fartando com o dinheiro público retirado compulsoriamente do minguado salário da maioria da população brasileira, o velho papo de que “te devoro, mas é para o teu próprio bem” e “esta dentada no teu pescoço dói mais em mim do que em ti”, não tá mais colando. A mamata está, ainda que tardiamente, acabando.
CHEGOU A HORA DA ONÇA BEBER ÁGUA.
Fabio Freitas Jacques -Engenheiro e consultor empresarial.
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