De todos os fetiches bizarros que eu conheço, o mais surpreendente é o tesão que o brasileiro sente pelo Estado.
É uma relação de ódio e submissão. Um relacionamento abusivo com um parceiro que te espanca todos os dias. Você usa a desculpa que precisa dele pra não faltar comida na mesa, mas a verdade é que não larga porque não consegue deixar de amar e, cegamente, acredita que um dia ele vai mudar.
Em 1990, o governo confiscou a poupança dos brasileiros.
30 anos depois, apenas 1% do país investe no mercado de capitais. Preferimos deixar o dinheiro rendendo menos do que a inflação, porque acreditamos que a poupança é o investimento mais seguro.
Em 2005, totalmente contrário ao decidido em plebiscito, o governo desarmou a população, que pacificamente entregou seus instrumentos de defesa. Na década seguinte, os crimes violentos dispararam; os homicídios aumentaram mais de 40%. 15 anos depois, ainda vemos campanhas pelo desarmamento civil, dizendo que é o Estado quem deve proteger nossas famílias.
Em 2020, estamos vivendo a falência do Estado Democrático de Direito. Governadores e prefeitos cerceiam o direito de ir e vir, confiscam propriedades privadas, restringem o funcionamento do comércio, proíbem cultos religiosos, usam os celulares para rastrear os cidadãos, entre tantos outros absurdos. Mas a maioria dos brasileiros ainda acredita que é só para o controle da pandemia; que depois que o vírus "for embora", o Estado se diminuirá por livre e espontânea vontade e tudo voltará ao normal.
Nem parece que, ainda hoje, estamos lutando para tentar reduzir o Estado que foi agigantado, há mais de meio século, pelo "milagre econômico" do regime militar. Nem parece que lutamos, dia após dia, contra este gigante burocrático, oneroso e ineficiente, que impede o empreendedorismo, inibe a geração de riquezas, dificulta a criação de empregos, proíbe a defesa de nossa vida, família e patrimônio.
Enquanto isso, vamos acreditando nas projeções sobre o famigerado "pico de contágio". Era em março, passou para abril, mudou para maio. Em maio, será transferido para algum momento entre junho e dezembro. Quando o país estiver irremediavelmente falido, finalmente anunciarão que tudo está controlado e que só estamos vivos graças à quarentena.
Terão, então, milhões de bocas famintas sendo alimentadas pelo Estado, seja no "Bom Prato" do João Surubeiro ou nas filas de cestas básicas espalhadas pelas periferias, e agradecendo aos responsáveis por suas ruínas, pelas migalhas que estão recebendo.
Um curral eleitoral gigantesco, guiado pelo cabresto da fome.
Felipe Fiamenghi
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