Não costumo escrever aqui, mas a angústia dessa tortura que se prorroga provoca a ansiedade. Sou um privilegiado, portanto falar, na minha ótica, significa demonstrar o mínimo de empatia com o drama dos outros.
As pessoas estão esgotadas. Ninguém atura mais esse discurso.
Bandeira vermelha só no Beira Rio. E preta é lá no Corinthians.
O pico já subiu e desceu inúmeras vezes. Isso parece filme pornô. Desculpem a ironia...
Enquanto o vírus era exclusivamente da camada alta da população, exigiu-se solidariedade: todos para casa, para quebrarmos juntos.
Agora, o vírus está na comunidade. Isso seria inevitável cedo ou tarde.
Mandar para casa é exigir que o contágio se dissemine lá mesmo. E que fiquem à sua própria sorte...
Ninguém pode ignorar a alta densidade populacional na periferia dos centros urbanos. Tampouco passam despercebidas as precárias condições sanitárias de vida.
Mas não é isso que os protocolos de saúde querem evitar: aglomerações em pequenos ambientes fechados?
Agora, além de quebradas, desempregadas, as pessoas ficarão desesperadas.
Depressão traz tristeza, conflito, desesperança e violência.
Pior que o vírus é a falta de saúde mental. Reações desproporcionais serão rotina do comportamento social.
Essa história, portanto, será melhor interpretada logo adiante.
Não pode ser avaliada pelo número absoluto de mortes; será pelos efeitos deletérios e devastadores que ela poderá produzir.
Ate agora, estamos sendo conduzidos como rebanho pela lógica do pensamento único: quem discorda é rotulado por atentar contra valores básicos de vida.
Que falta a humanidade sente de um homem como Winston Churchill. Não se vence uma guerra sem sangue, suor e lágrimas.
Falta-nos o mínimo de enfrentamento.
Deixamos os profissionais da saúde sozinhos. Enquanto eles se arriscam, pouco se produziu para sustentar o povo em pé.
Churchil dizia, reverenciando aos jovens pilotos ingleses: nunca muitos deverão tanto a tão poucos...
O mesmo há de se dizer em relação aos nossos profissionais da saúde.
A diferença é que lá, o resto da população tratou de trabalhar e produzir condições de enfrentamento. Que depois se viu foi a força para destruir o nazismo.
Aqui, ficamos em casa para quebrar, esperando o milagre da vacina. E, dizem, até medicamentos e insumos já estariam faltando...
Que Deus nos ajude, porque nós estamos sentados.
Ninguém imagina irresponsabilidade: proteção aos idosos e vulneráveis. E eu os tenho muito próximos, portanto sou insuspeito. E sei que eles preferem o risco do afeto à ausência da solidão devastadora.
E vamos, aqueles que podem, respeitando os protocolos de saúde, ao trabalho, para ajudar nossos heróis nessa guerra.
Fechar e lacrar não parece mais possível. Definitivamente, a vida tem que seguir. Até em respeito aos que tombaram!
José Aquino Flores de Camargo - ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
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