Essa “babaquice” do inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal - STF, com o objetivo de prender e condenar, sumariamente, sem antes haver qualquer acusação legal, processo, ou julgamento, determinada pessoa, supostamente autora de “Fake News”, ou de “atos antidemocráticos”, cuja relatoria, melhor, “ditadoria”, foi “sorteada” (???) ao Excelentíssimo Senhor Ministro Alexandre de Moraes, sem dúvida deve passar para os anais da história da humanidade como o clímax da perversão dos valores jurídicos, políticos e morais, envergonhando o povo brasileiro frente à comunidade internacional por ter cruzado os braços ante esses ataques acintosos aos direitos mais elementares de um povo.
“Atos antidemocráticos”, Senhor Ministro? Será que Vossa Excelência teria a mínima ideia do que seja uma autêntica democracia, sem confundi-la com essa “cópia barata” impropriamente chamada democracia, praticada no Brasil, da qual Vossa Excelência, e seus “Supremos” pares, se consideram “guardiões”? Saberíeis, porventura, que no Brasil jamais houve democracia, e sim a sua “antítese”, a OCLOCRACIA, que se trata da democracia degenerada, corrompida, ”às avessas”, praticada pelos políticos representativos da pior escória da sociedade brasileira, sempre em benefício próprio, e não do povo?
Mas mesmo que essa democracia deturpada defendida com “fúria” por Vossas Excelências fosse um modelo autêntico, com virtudes democráticas nos seus dois polos, candidatos a cargos eletivos e eleitores, o que não acontece, ninguém estaria obrigado a se ajoelhar ante esse modelo em detrimento de outras formas e regimes de governos sadios, como a monarquia, a aristocracia, ou outra qualquer. Penso como Aristóteles, em “Política”, para o qual todas as formas puras de governo são válidas, desde que exercida com virtude.
Ademais, todos devem saber que foi no período da Monarquia, que funcionou desde a Independência do Brasil, em 7.09.1822, até 10.11.1889, derrubada por um golpe militar, que instalou a “famigerada” república, com a sua “cria” degenerada, chamada “democracia”, onde, paradoxalmente, mais se praticou verdadeira democracia no Brasil.
A história da “Colônia Cecília”, por exemplo, fundada em 1890, no então município de Palmeira, no Paraná, como uma experiência pioneira socialista-anarquista no Brasil, pode ser apontada como o grande exemplo da incrível democracia praticada no Brasil durante a monarquia.
O compositor brasileiro Carlos Gomes (O Guarani) era amigo do anarquista italiano Giovanni Rossi, escritor e agrônomo, que havia aderido à Internacional Socialista em 1873, aos 18 anos de idade, a partir de quando passou a tratar de um projeto de “vida comunitária’. Rossi pretendia fazer essa experiência comunitária anarquista primeiramente no Uruguai, mas seu pleito foi rechaçado pela eterna guerra política local entre “Blancos e Colorados”.
Foi a partir daí que Carlos Gomes interferiu. Valeu-se do seu bom relacionamento com o Imperador Dom Pedro II e o convenceu a ajudar Giovanni Rossi e seus anarquistas a fundarem um “Novo Tempo”, ”uma utopia baseada no trabalho, na vida, e no “amor livre”. O Imperador escreveu a Rossi oferecendo-lhe condições de instalar a sua experiência anarquista no Brasil, doando as terras necessárias, consistentes em 300 alqueires da Região Meridional do Brasil.
Rossi embarcou no navio “Cittá di Roma”, a partir de Gênova, com alguns camaradas, em 20.02.1990, chegando ao Rio de Janeiro em 18.03.1890. Em seguida fundou a Colônia Cecília, em abril de 1890, no Paraná, nas terras prometidas em doação por Dom Pedro II, em cujo auge chegou a ter 250 anarquistas. A Colônia durou de 1890 a 1894. Foi extinta por razões até hoje não bem explicadas. Uma foi pela não consumação da doação das terras, já que a recém instalada “”República” (1889), que “golpeou” a monarquia e Dom Pedro II, não reconheceu a doação do Imperador deposto. Mas Rossi não desistiu e se propôs a comprar as terras. Mas tinha um tesoureiro “ladrãozinho” que deu “sumiço” no respectivo dinheiro. Outra situação que frustrou os objetivos da Colônia Cecília foi a falta de tradição dos “colonos” ali assentados com as lidas campeiras, o que passou a gerar fome na comunidade anarquista. Essa população de anarquistas era composta por gente não muito “chegada” ao trabalho pesado do campo.
Finalizo com uma pergunta: qual o governo republicano e democrata instalado no Brasil a partir de 1889 teve uma atitude tão democrática quanto o Imperador Dom Pedro II que, em pleno regime da monarquia, deu apoio e abrigo a grupos que pela simples condição de “anarquistas” jamais se submeteriam à sua “soberania” imperial?
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo
Um comentário:
Também sou "anti-democrático". Mas devo evidenciar ao autor, que JC já falou, não se dá pérolas aos porcos, eles as mastigarão e cuspirão, pisotearam-nas, sem aproveitar seus valores.
Postar um comentário