"Gimba" já treina para virar decano daqui a um ano e meio
A agenda de Gilmar Mendes é espaçosa, diversificada e estafante. Além de liderar a bancada dos ministros da defesa de culpados no Supremo, ele administra uma fábrica de habeas corpus que funciona até no recesso, comanda a instituição de ensino anabolizada por lucrativos seminários internacionais, desdobra-se em operações que livram de processos ou da cadeia seus bandidos de estimação em apuros, dá entrevistas para reafirmar que no faroeste à brasileira é o vilão que tenta prender o xerife, almoça e janta com parceiros de conspiração, planeja pessoalmente viagens a Portugal e orienta os assessores encarregados de preparar o voto que lerá na próxima sessão do STF, fora o resto.
É compreensível que tanta trabalheira invada o fim de semana. Neste sábado, por exemplo, Gilmar gastou a manhã adulando Celso de Mello no Twitter. Sem citar o nome do autor, mostrou-se indignado com o artigo publicado na véspera aqui no R7. "Cem anos depois de Rui Barbosa, o Brasil tem de conformar-se com Celso de Mello", resumia a frase que amparava o título: O Águia de Haia e o Pavão de Tatuí. Já treinando para virar decano em julho de 2021, esforçou-se para produzir um palavrório à altura do juridiquês castiço que Celso de Mello tanto aprecia.
“As manifestações odiosas dirigidas ao decano do STF só revelam a face oportunista e embusteira de um jornalismo manipulador e descomprometido com a verdade", caprichou o Juiz dos Juízes. “Curiosamente, em 2012, o autor das críticas de hoje encabeçou a campanha "Fica, Celso de Mello".
Verdade. Há oito anos, Celso de Mello teve um belo desempenho no julgamento do Mensalão — até tropeçar nos capítulos finais. Foi ele, por exemplo, o primeiro a constatar que a roubalheira obscena arquitetada por Lula e seus comparsas embutia "um projeto criminoso de poder". Confrontado com a informação de que o ministro pretendia encerrar a longa passagem pelo STF para cuidar da saúde, pedi que lá permanecesse.
Aquele Celso de Mello não existe mais. Começou a mostrar a face turva quando desempatou votações que resultaram na soltura de alguns delinquentes e no abrandamento das penas aplicadas a outros parteiros do projeto criminoso de poder. E escancarou a lastimável metamorfose quando se juntou ao grupo liderado por Gilmar Mendes.
É divertido ler Gilmar Mendes proibindo alguém de mudar de opinião. O tuiteiro que hoje sonha com a morte da Lava Jato foi um ardoroso defensor da maior operação anticorrupção da história, como atesta o vídeo abaixo. Minha opinião sobre Celso de Mello mudou por vê-lo mudar para pior. Gilmar tornou-se inimigo da Lava Jato porque as investigações se aproximaram perigosamente do Congresso e do Judiciário.
Pelo que Gilmar escreveu, o decano ficou no Supremo para atender ao pedido que fiz. Se é assim, faço outro apelo: vai pra casa, Celso de Mello.
Augusto Nunes - Jornalista
Um comentário:
Onde é que está enfiada a espada da Dama nessa figura?????
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