Na era PT, Joesley Batista prosperou meteoricamente por ter virado sócio do Clube dos Campeões Nacionais. Em tese, a entidade reuniria sumidades da indústria brasileira que, com o apoio do governo petista, mostrariam aos gringos que com o Brasil ninguém pode. Na prática, a ideia de jerico selecionou, com base em critérios suspeitíssimos, um bando de espertalhões que teriam a conta bancária anabolizada por bilionários empréstimos-donativos do BNDES. Parte da catarata de dinheiro saiu pelo ralo de fantasias megalômanas, como as miragens de EIke Batista. Outra parte matou a sede de criaturas que não conseguiriam sobreviver por conta própria. Foi o caso dos filhotes da J&F.
No governo Michel Temer, ao entrarem na mira da Lava Jato, Joesley e seus batistas trataram de safar-se da cadeia e da falência com o que batizei de meia delação premiadíssima. O candidato a campeão nacional da safadeza contou um pouco do muito que sabia (e sabe). Em troca, recebeu uma multa de pai para filho e as bênçãos da Procuradoria Geral da República, que lhe assegurou o direito de ir e vir depois de um curtíssimo estágio na gaiola. Em países menos complacentes, ele teria perdido a liberdade e a vida mansa há muito tempo. Aqui, continua à solta, e tentando tapear empresários estrangeiros efetivamente dispostos a apostar no Brasil.
Poucas espécies de chicaneiros são tão detestáveis quanto os especialistas em litigância de má-fé. Traduzindo o juridiquês: até bebês de colo e índios de tribos isoladas sabem qual das partes de uma disputa judicial tem razão, mas o lado errado segue mobilizando tropas de doutores na busca de uma improvável vitória por cansaço, por cumplicidade de operadores da Justiça ou por interferência do velho e cafajeste tapetão. Todos os buracos, brechas e fissuras da legislação são explorados para amparar infinitos recursos que adiam a decisão derradeira sobre uma pendência que não comporta uma única e escassa dúvida sobre quem tem razão. Pois Joesley e sua turma vêm ultrapassando todos os limites do tolerável nesse tipo de patifaria.
Desde setembro de 2017, por exemplo, o ex-devedor preferido do BNDES têm impedido, com truques, trampas e trapaças, que a Paper Excellence, pertencente a um grupo multinacional, assuma o controle da Eldorado, produtora de celulose vendida pela J&F por 15 bilhões de reais. Como o preço da celulose subiu logo depois do acerto, Joesley resolveu extorquir mais 6 bilhões por fora. A Paper preferiu lutar na justiça. Descobriu recentemente que brasileiro malandro desrespeita até decisão unânime de um tribunal arbitral. Derrotado por 3 a 0, Joesley encomendou mais um recurso.
A Paper está pronta há quatro anos para aplicar no Brasil o dinheiro que Joesley vem desviando para o exterior. O fantasma da insegurança jurídica pode afugentar empresários que só investem em lugares sérios. Como já ocorre em outros países, Joesley deveria ser tratado como um incurável caso de polícia também no Brasil. Mas ainda circula por aí caprichando na pose de case de sucesso.
Augusto Nunes - Jornalista
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