Enquanto o resto do mundo se une para vencer a pandemia, muitos brasileiros travam combates dispensáveis
Nos Estados Unidos, democratas e republicanos suspenderam a sempre animada pancadaria eleitoral para derrotarem juntos a pandemia de coronavírus. Nada lhes parece mais importante que a vitória sobre o inimigo comum.
Na Itália, críticas muito pertinentes à demora do governo em avaliar a extensão do perigo ficaram para depois. Políticos de todas as tendências e siglas compreendem que nada deve retardar o fim do pesadelo. Esse é o perigo real e imediato. O inimigo comum.
Nas varandas em Barcelona, nacionalistas catalães e antiseparatistas aplaudem juntos, no começo da noite, o heroísmo dos médicos, enfermeiros e demais soldados do sistema de saúde que travam por eles a guerra contra o inimigo comum.
Na Inglaterra, jornais esqueceram as travessuras da família real para que não falte um centímetro de espaço ao noticiário exigido pelo coronavírus. Tem sido assim em todos os países. Melhor: todos os que identificaram com nitidez o inimigo comum. Não é — ainda —o caso do Brasil.
No país do Carnaval, a pandemia é o tema do momento, mas o besteirol continua relevante. Deputados exigem o impeachment do presidente da República, com o apoio de guerrilheiros empunhando panelas. Jornalistas denunciam Jair Bolsonaro por mau uso de máscaras no rosto. E o PT continua berrando que o vírus nascido na China foi concebido e espalhado por Bolsonaro.
No começo dos anos 60, Nelson Rodrigues constatou que os idiotas haviam perdido o pudor e, pior, estavam por toda parte. Se estivesse vivo, o grande cronista saberia que nunca houve tantos cretinos fundamentais na imprensa e no Congresso.
A idiotia tornou-se epidêmica no Brasil. E idiotas não conseguem enxergar um inimigo comum.
Augusto Nunes - Jornalista
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