“Nós estamos enfrentando um vírus com a capacidade de transmissão muito... muito... solerte”, começa o falatório em que Dilma Rousseff resumiu o perfil psicológico do mais recente produto exportado pela China. A penúltima palavra incorporada ao repertório vocabular de Dilma foi “tergiversar”. Neste ano, ela aprendeu mais uma: “solerte”.
Para facilitar a vida dos leigos, ela gagueja um sinônimo de “solerte” na frase seguinte. “Ele é... é... é esperto. O vírus chega devagarzinho... fica... tem um tempo de incubação significativo e pode, portanto, surpreender”, prossegue o cortejo amalucado de vogais bêbadas, consoantes trôpegas e reticências sem serventia.
“E esse método é o isolamento social”, desembesta Dilma. “E o isolamento social é horizontal”. Por que que é horizontal?, ela mesma pergunta. Faz outra pausa e responde com um enigma indecifrável: “Porque as famílias são horizontais. Você têm as famílias... têm várias gradações”.
O que seria uma “família horizontal”? Um bando de parentes que passa o dia deitado? Pais e filhos que não andam, só rastejam? E quais seriam as demais gradações do núcleo familiar? Dilma acelera e muda de assunto. Agora está ensinando o que deve fazer gente aflita com um inimigo solerte, esperto, que chega devagarzinho e surpreende famílias horizontais?
“Você tem só esse método de combate”, avisa. “Não tem outro. O único método de combate, hoje, até que se encontre uma vacina. Até que toda essa busca por uma vacina resulte em algo concreto, ou que se tenha um vácuo capaz de tratar essa doença, nós teríamos só essa forma de lidar com ela”.
Não há outras opções? Por que só uma? “Primeiro porque, caso contrário, todos os modelos matemáticos mostram que, se você não fizer nada, o nível de mortandade é algo estarrecedor, na faixa de 1 milhão de pessoas”, líquida a questão a doutora em nada. Dilma já viu um cachorro oculto por trás de toda criança. Agora anda vendo vírus a olho nu.
Entre a morte do imperador Euptimio Severo em 235 e a ascensão do imperador Diocleciano em 285, houve 50 anos de anarquia, informam num asterisco no pé da página livros que condensam a história do Império Romano. Deve ter sido um período turbulento. Mas menos complicado que o vivido pelo Brasil entre a posse de Dilma em 2011 e o impeachment que a despejou da Presidência em 2016. Pela primeira vez no mundo, um país foi governado durante cinco anos por uma mulher incapaz de dizer coisa com coisa.
Se um coronavírus desavisado entrar na cabeça de Dilma em busca de algum neurônio a infectar, vai morrer de solidão.
Augusto Nunes - Jornalista
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