Jornal de Rio Preto concorre ao prêmio de manchete mais assustadora do ano, ironiza Augusto Nunes
O Diário da Região, baseado em São José do Rio Preto, publicou na edição de 4 de abril a seguinte manchete: "Em três semanas, vírus faz mais vítima aqui do que fez na Itália". Imaginei que alguém resolvera inventar aquilo para celebrar com três dias de atraso o 1° de abril. Intrigado, conferi as 16 linhas abaixo do título. E então descobri, espantado, que o "aqui" da manchete não era uma alusão ao país, mas à cidade. Segundo o Diário da Região, o coronavírus de Rio Preto matava mais que o similar italiano.
O jornal embarcou no pesadelo amparado em declarações do secretário municipal da Saúde, Aldenis Borim. "Para reforçar a importância do isolamento como forma de evitar aglomeração e transmissão", escreveu o autor da manchete, Borim havia examinado o que ocorrera na Itália e em Rio Preto nas três semanas que se seguiram ao desembarque oficial do vírus chinês no país europeu e no município paulista. A Itália só contabilizou três infectados. Nos mesmos 21 dias, Rio Preto chegou a trinta casos. Dez vezes mais. Tremenda goleada.
Limitei-me a incluir a manchete inspirada na afirmação de Borim no vasto acervo de desinformações terroristas produzidas para justificar a quarentena para todos. Num vídeo de seis minutos, o doutor declarou-se magoado, garantiu que o errado sou eu, recitou seu gordo currículo e avisou que aguarda um pedido de desculpas. Recomendo que espere sentado — e mate o tempo conversando com os jalecos que o confortaram com manifestações de corporativismo explícito.
Nesta quinta-feira, aliás, o balanço da pandemia informou que a Itália soma 143.626 infectados e 18.279 mortos. Em Rio Preto, os casos confirmados são 47. Morreram duas vítimas. Borim não tem motivos, portanto, para a expressão desolada que aparece no vídeo. A menos que, como tantos brasileiros, também torça pelo vírus.
Augusto Nunes - Jornalista
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