Há mais enigmas na administração pública brasileira, especialmente a federal, do que em todas as tumbas dos faraós do Egito. De todos eles, um dos mais indecifráveis é o que poderia ser chamado O Grande Enigma Imobiliário do Estado Brasileiro.
A União, pelos dados que nos é possível conhecer, tem mais de 650 mil imóveis — uma estimativa, realmente, porque nem todos os computadores da CIA, do Pentágono e do Vale do Silício somados seriam capazes de calcular o número exato. Ninguém tem ideia, nem mesmo uma vaga ideia, de quantos desses imóveis estão desocupados no momento: as contas variam de 180 a 10 mil, e a realidade pode ser ainda pior.
Será que existe algum governo no mundo que tenha mais imóveis que o do Brasil? Não se sabe. O que se sabe é que, com todo esse descomunal patrimônio imobiliário, a administração federal ainda tem de pagar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão por ano em aluguel — isso mesmo, mais de um bi e meio.
Enigma? Põe enigma nisso. O mais bonito nessa história é que se calcula que haja no Brasil, neste momento, cerca de 8 milhões de famílias, ou algo perto de 30 milhões de pessoas, sem casa para morar. Tudo bem: isso aí é conta de ONG, e conta de ONG é o que se sabe. Mas, por mais tortos que sejam esses números, é óbvio, pela simples observação a olho nu do que está nas ruas, que a falta de moradia é um dos problemas sociais mais agressivos do Brasil.
Por que, numa sociedade em que o Estado tem tantos imóveis, tanta gente pobre não tem casa — ou algo que se possa chamar de casa? Desconte daí os que não querem ter casa nenhuma: vadios, alcoólatras, drogados etc., que acham muito melhor morar na rua e de graça. Ainda assim existe em tudo isso um disparate absoluto. Governo, quando dá para ter coisa, fica compulsivo.
J. R. Guzzo - Jornalista
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