A viagem de Santini ampliou o vasto acervo de abusos acumulado pela FABTur.
Há coisas que não se faz, resumiu José Roberto Guzzo num artigo recente. A coisa pode não ser ilegal. Pode até permitir interpretações opostas no campo moral. Mas não pode ser feita. Ponto. Ocupantes de cargos públicos, por exemplo, não podem passear de avião com o dinheiro dos pagadores de impostos. Isso não se faz.
Foi o que acabou de fazer Vicente Santini, o n° 2 da Casa Civil demitido nesta semana pelo presidente Jair Bolsonaro. Ao substituir o chefe Onix Lorenzoni, Santini deduziu que poderia desfrutar dos privilégios concedidos a quem tem status de ministro de Estado. E requisitou um avião da Força Aérea Brasileira para inaugurar a rota Davos-Nova Delhi-Brasília. É a mais extensa da FABTur.
A sigla identifica a empresa informal cuja frota pertence à Aeronáutica. Um freguês da FABTur não compra passagens. Sem gastar um centavo, requisita um avião, determina o plano de voo e escolhe os companheiros de viagem. As despesas são bancadas pelo povo.
Santini é provavelmente o novo recordista na categoria Milhagem Numa Única Viagem. Mas o histórico da FABTur acumula um acervo de abusos e exotismos igualmente impressionantes. Em dezembro de 2013, por exemplo, Renan Calheiros invocou seus poderes de presidente do Senado para voar de Brasília ao Recife a tempo de submeter-se a mais uma sessão de implante de cabelo.
Basta uma canetada de Bolsonaro para reestatizar a FABTur. Há muito tempo ela pertence a um punhado de pais da pátria que debitam as despesas na conta do povo. Eles nunca aprenderão que certas coisas não se faz.
Augusto Nunes - Jornalista
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