Até que ponto as nações mais ricas devem fechar as suas fronteiras,
e até que ponto os imigrantes têm direito a exigir abrigo dentro delas?
Um pequeno problema com imigrantes ilegais brasileiros apanhados nos Estados Unidos e despachados de volta para o Brasil — pequeno no sentido de que envolveu pouca gente, não na sua dimensão humana — chamou a atenção para uma das mais intratáveis dificuldades enfrentadas hoje pelas sociedades dos países ricos: a invasão de seu território não por tropas estrangeiras inimigas, mas por exércitos de pobres em busca de um lugar melhor para morar. Os ilegais brasileiros detidos nos Estados Unidos não passavam de 50. Isso, hoje em dia, não é nada — a questão envolve milhões de pessoas, e não algumas dezenas. Mais: os brasileiros significam muito pouco na conta geral dos movimentos de imigração. Na Europa, o problema é com multidões de africanos e populações árabes que querem fugir de seus países, destruídos por guerras civis, convulsões internas e danos causados pelo terrorismo. Nos Estados Unidos, com milhões de mexicanos e outros latinos que imaginam escapar da pobreza mudando de país.
A discussão política, nisso tudo, é a seguinte: até que ponto as nações mais ricas devem fechar as suas fronteiras, e até que ponto os imigrantes têm direito a exigir abrigo dentro delas? O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), comentando o caso dos brasileiros, declarou durante viagem à Índia que os Estados Unidos têm o direito de recusarem a entrada de qualquer imigrante que não queiram receber. Ele representa uma das duas grandes vertentes da opinião mundial diante da questão. A outra vertente, oposta, sustenta que os países ricos, atualmente, têm a obrigação de rever os conceitos sobre fronteiras, nacionalidade e imigração — e abrir-se muito mais do que já se abrem aos imigrantes, legais ou não. Esta é, hoje, possivelmente a discussão política mais quente nas nações do primeiro mundo. A direita se coloca contra a imigração e a favor de controles cada vez mais severos sobre a entrada de estrangeiros. A esquerda defende o contrário.
O conflito é exasperado, cada vez mais, por questões paralelas. A direita se revolta contra as ideias que defendem o “multiculturalismo” — a aceitação cada vez maior dos valores estrangeiros que entram em seus países junto com os imigrantes. Fica indignada com a multiplicação de mesquitas, com as “burkas” usadas pelas mulheres, com o desinteresse dos imigrantes em aprender a língua local ou mesmo aceitar as leis com as quais “não concordam”. A esquerda diz que contrapor-se a isso tudo é ceder ao “racismo”, à “xenofobia” e a taras “nacionalistas”. Não há perspectiva de um entendimento próximo.
A verdade é que nenhum dos lados envolvidos nessa disputa tem soluções claras a oferecer. Enquanto a maioria dos governos hesita em agir, com medo de serem acusados de “direitismo”, a animosidade apenas aumenta a cada dia. Ao abrirem mão da posição mais direta e simples quanto ao problema — só há dois tipos de imigrantes, os legais e os ilegais, e os ilegais não podem ser aceitos, mesmo que se apresentem sob a definição de “refugiados” — os governos preocupados com a sua imagem criaram um imenso vácuo. É nele que o problema prospera cada vez mais.
J. R. Guzzo - Jornalista
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