Pelo jeito, como nas desgraças anteriores, o pior não aconteceu: já estamos no pós-crise, à espera da próxima.
É possível que um dia, no futuro, os historiadores que se interessarem pelo Brasil como ele é hoje cheguem a uma constatação curiosa: em vez de crises, temos pós-crises. No momento, estamos na quinta ou sexta pós-crise em torno do ministro da Justiça, por exemplo, e isso tudo no curto espaço de um ano.
A pós-crise atual veio na sequência da movimentação, real ou imaginária, em torno da amputação das funções que tinham sido devolvidas ao Ministério da Justiça quando o novo governo assumiu: cortadas por Michel Temer, foram reincorporadas por Bolsonaro ao nomear Sergio Moro para o cargo e agora estariam para ser desmembradas pela segunda vez. Isso seria uma paulada feia no ministro.
Pelo jeito, como nas desgraças anteriores, a crise não aconteceu: já estamos no pós-crise, à espera da próxima.
Foi assim no episódio das “gravações”, na transferência de órgãos de fiscalização financeira para o Ministério da Fazenda, na ausência de entusiasmo aparente de Bolsonaro por reformas que o seu ministro propôs, no não veto a esse ou àquele dispositivo aprovado pelo Congresso e por aí afora. Em cada um desses casos, Moro foi dado como morto – só que continua vivo.
Já vivemos pós-crises com o ministro Paulo Guedes, que por um motivo ou por outro teria se desentendido com o presidente, com outros ministros, com o Congresso. Houve as pós-crises das demissões de alguns ministros, cujos nomes ninguém mais lembra direito quais eram.
Pós-crise contínua
O vice-presidente Hamilton Mourão, então, vive numa espécie de pós-crise contínua desde que assumiu as suas funções. Tudo isso, até agora, não tem servido para muito mais do que encher o noticiário, causar umas oscilações na Bolsa de Valores e fazer o dólar aumentar um pouco e cair um pouco.
Quem sabe na próxima crise acontece alguma coisa a mais. Vamos esperar.
J. R. Guzzo - Jornalista
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