Tenho plena consciência que conseguir a publicação desse texto será muito mais difícil do que acertar na loteria.
Essa “fatalidade” se dá em virtude da quase total falta de isenção da mídia brasileira, sempre ligada a “algum” lado qualquer do poder político, que “é”, ou “poderá ser”, e exatamente por isso só vai lhe interessar em divulgar o “seu lado”, “investindo” nele, seja pró-governo, seja pró-oposição, que “amanhã” poderá ser governo, jamais contra, ou a favor, de ambos os lados.
“Mato a cobra e mostro o pau” (que matou a cobra, claro). Um dos articulistas que mais respeito em toda a mídia brasileira, que nem é “profissional” dessa área, trata-se do Dr. Milton Simões Pires (médico). Milton tinha quase todo o espaço do mundo para divulgar os seus contundentes artigos anti-PT. Mas isso foi “antes” da posse de Bolsonaro, em 1º de janeiro de 2019. Após alguns meses do novo Governo, a honestidade intelectual desse cidadão começou a perceber e não perdoar os inúmeros malfeitos que todos os dias estão surgindo em relação a esse governo. Fecharam-se-lhe, ”automaticamente”, quase todas as portas midiáticas, restando-lhe o seu blog particular, o excelente ”Ataque Aberto”
É por isso que em vista dos seus interesses, a mídia adotará um só lado para “defender”, seja situação, seja oposição, invariavelmente reservando o outro lado mais para “bater”.
Ora, em virtude da tendência midiática de ficar sempre ao lado e de “bem” com os detentores das chaves dos “cofres públicos”, de onde partem grande parte dos seus recursos, é claro que â “oposição política” ficarão reservadas todas as críticas e denúncias de malfeitos.
Mas a oposição política também sempre tem os seus “defensores midiáticos”, que investem no “possível”, ou “provável”, amanhã. Falar mal do governo, condicionado a elogiar e falar bem da oposição, também terá espaço.
Toda essa situação se tornou mais perceptível que nunca a partir da eleição de Jair Bolsonaro, em outubro de 2018, que afastou do poder a “dobradinha” PT/MDB, que reinava, roubava e depredava o país desde 2003.
A partir de Bolsonaro, a “cisão” da mídia ficou mais radical que nunca. Ninguém mais consegue “elogiar, ” no mesmo instrumento midiático, os “dois” lados. E também não consegue “criticar”. Um lado tem que ser elogiado. E o outro censurado. Só assim a mídia vai admitir.
O Governo Bolsonaro foi instalado na mais radical oposição “moralizadora” ao regime político que dominou o país de 2013 a 2018, cuja maior característica foi a manipulação mentirosa de índices estatísticos sociais que teriam beneficiado as classes sociais menos favorecidas, e uma corrupção de tal magnitude que jamais foi vista em qualquer outra parte do mundo, garantindo muitos que teria superado a cifra dos 10 trilhões de reais, superior ao PIB brasileiro.
Mas após um ano do Governo Bolsonaro, já deu para perceber que paralelamente às denúncias e combate contra os malfeitos do PT/MDB, parece que a corrupção prossegue com os novos titulares do poder, talvez em menor escala, ainda não “institucionalizada”, como antes, mas nem por isso menos imoral e ilegal.
Com esse discurso “moralista”, contrariando a sua prática, o que o novo Governo está fazendo pode ser representado pela figura daquele político cretino (moralista?) que discursa para o povo em praça pública completamente “pelado”.
Ora, um país que não acerta na política, também jamais poderá dar certo. E nessas condições, a democracia, que deveria ser um bem, a melhor forma governo, acaba se tornando um mal. A propósito, e recordando frase genial de Nelson Rodrigues: ”A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”.
Reforçando o pensamento de Nelson Rodrigues, poderíamos adicionar palavras que acabaram imortalizadas do filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821), ferrenho defensor do Regime Monárquico, e crítico da Revolução Francesa: “Cada Povo tem o Governo que merece”.
Essas duas frases desses grandes pensadores não estariam, porventura, resumindo a tragédia política acampada na tal “democracia” brasileira?
Sustentei a tese que “o Brasil não deu certo” já em 1986, no livro que escrevi com o título “Independência do Sul”, onde propus a discussão sobre o possível desmembramento do Brasil, conforme as respectivas vocações, potencialidades naturais e humanas de cada região. O resultado é que hoje estão instalados em quase todas as regiões do Brasil núcleos e movimentos “autodetermistas”, a exemplo do que igualmente ocorre no “País Basco” e “Catalunha” (Espanha), Québec (Canadá), e em diversas outras “nações”, que não teria lugar para citar todas aqui, de tantas que são, ainda não reconhecidas como países independentes, e que se encontram “reprimidas” e ”acorrentadas” pelos respectivos poderes centrais.
Mas após muitos anos de “engajamento” na luta pela autodeterminação da minha região, da minha “terra”, que é o Sul do Brasil, que até já tem proposta para denominação de país (União Sul Brasileira-USB) , e de “solidariedade” às outras eventualmente interessadas, acabei completamente desmotivado e decepcionado pela covardia do “meu” próprio povo em buscar a sua libertação dos laços malditos de Brasília, origem de todas as desgraças políticas do Brasil. “Meu Povo” está com a cabeça tão “lavada” por “um país que não deu certo” quanto os povos das outras regiões.
Agora acabo de chegar à conclusão que o filósofo francês “Maistre” foi superficial, e incompleto, na sua conclusão, no sentido de que “cada povo tem o governo que merece”. Deveria ter ido mais longe. É que “cada povo (também) tem o PAÍS que merece”. E, finalmente, “cada PAíS (também) tem o povo que merece”.
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo
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