“Decoro” – eis aí uma das palavras mais utilizadas na linguagem política de hoje no Brasil. Pelo jeito, porém, ela não pode ser aplicada como consta no dicionário – só vale quando se refere a pessoas que estão no governo ou são a favor dele, e principalmente ao presidente da República. Estes são obrigados a agir, falar e pensar com decoro em tudo o que fazem. Seus adversários, porém, estão livres dessa exigência.
Podem, inclusive, arremessar uma retroescavadeira contra um grupo de policiais grevistas, ou amotinados, sem que passe pela cabeça de ninguém cobrar “decoro” do autor do ataque. É o que acaba de acontecer na cidade de Sobral, no Ceará, onde o senador licenciado Cid Gomes, um dos mais agressivos inimigos do governo, achou por bem avançar contra os grevistas na direção de uma máquina de construção pesada. Ninguém, na mídia e no mundo político, achou nada demais.
Cid foi desculpado como um homem que é nervoso por natureza, coitado, e está mesmo sujeito a esse tipo de surto. É preciso entender que se trata de um homem esquentado, acostumado a fazer “política de confronto”, e que o ato de enfiar uma retroescavadeira em cima de um grupo de policiais deve ser considerado uma coisa mais ou menos normal para alguém como ele. Na verdade, o tom geral dos relatos descreve Cid como uma vítima – afinal, levou um tiro com bala de borracha dos policiais, e correu o risco de se machucar.
A atitude correta, na política brasileira de hoje, é pedir o impeachment do presidente a cada vez que ele se mete num bate-boca com algum adversário. Cid Gomes? É apenas um sujeito de cabeça quente. Deixem o homem sossegado.
J. R. Guzzo - Jornalista
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