Ou a autoridade nº 1 do Estado assume a liderança, correndo todos os riscos que a vida impõe, ou não vai mudar nada, nunca.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, deve ter todas as razões deste e de outros mundos para dar um aumento de mais de 40% nos salários da Polícia Militar e civil do seu Estado, como acaba de fazer. Vai ver, até, que o certo seria dar 80%, ou ainda mais. Afinal das contas, toda pessoa com um mínimo de bom senso sabe que é perfeitamente impossível pensar em ter uma boa polícia, em Minas ou no resto do planeta, sem bons salários – ou a função do policial é valorizada e colocada no lugar que merece, entre as mais importantes do serviço público, ou haverá uma polícia ruim.
Não há nenhuma dúvida, também, que a segurança tem de ser uma prioridade em qualquer Estado do Brasil, e não pode haver segurança decente sem uma polícia boa.
O problema não está na lógica do aumento. O problema é que o governador Zema, como empresário e homem racional que é, sabe que dinheiro não dá em árvore, nem na Secretaria da Fazenda, nem no governo federal. Dinheiro só dá no bolso do contribuinte e, portanto, só pode sair de lá.
Muito bem: ou o governador faz as contas e cria em Minas um imposto extra para pagar esse aumento que deu, ou corta o montante da despesa que criou eliminando gastos em outras áreas da máquina pública estadual. É claro que não aconteceu, nem vai acontecer, nem uma coisa nem outra. Mesmo com o Estado financeiramente quebrado há anos, o reajuste para a polícia vai ser apenas jogado na massa falida geral e tornar ainda pior o que já é um desastre.
Não se trata apenas de uma agressão à aritmética e aos princípios de moralidade nas finanças publicas que o governador e o seu Partido Novo tanto pregam. (O partido, aliás, foi coerente: dos seus três deputados na Assembleia Legislativa, dois votaram contra o aumento. Estão certíssimos; foi exatamente para isso que os eleitores mineiros lhe deram os seus mandatos).
Autorizar um aumento salarial desses, e imaginar que fique tudo bem, é como esperar que um passarinho levante voo do fio de rua onde está pousado e que todos os demais permaneçam quietos nos seus lugares – é claro que quando um deles levanta voo todos os demais vão atrás, na hora. No caso da polícia de Minas, já está havendo um movimento de outras áreas para receber aumento igual.
A atitude de Zema é, mais uma vez, a prova de que os homens públicos brasileiros, não importa o que pensam ou prometem, são a peça-chave para a situação de bancarrota em que vivem praticamente todos os 27 Estados da Federação. Os funcionários, é óbvio, vão sempre querer ganhar mais, e os deputados vão sempre concordar com qualquer disparate na despesa pública – quem tem coragem de votar com a razão, fora um punhadinho de gente que respeita o seu mandato, como os solitários deputados do Partido Novo em Minas?
Cabe ao governador tomar para si a responsabilidade de gerir o Estado com honestidade contábil – principalmente se foi isso que prometeu na campanha. Aí é preciso ter uma estatura e uma coragem que poucos têm. Ronald Reagan e Margaret Thatcher foram assim. São gigantes da política mundial do século XX.
É querer demais? Não, não é querer demais – é apenas querer o certo. Mais que isso: o indispensável. Minas Gerais sustenta, acredite se quiser, 460.000 funcionários públicos, sem ter a menor condição para isso. Arrecada pouco mais de 100 bilhões de reais por ano; gasta acima de 115, numa conta que não fechará nunca. Há quatro anos – quatro anos – os salários do funcionalismo são pagos com atraso.
O décimo terceiro de 2019 ainda não foi pago para os servidores que ganham mais de 2.500 reais por mês. Quem está enganando quem nessa comédia? O certo é que o grande otário, para os responsáveis pelo governo e para o funcionalismo, é o contribuinte. Ou a autoridade número 1 do Estado assume a liderança nessa luta, correndo todos os riscos que a vida impõe a quem toma o partido do bem contra o mal, ou não vai mudar nada, nunca.
J. R. Guzzo - Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário