A cada entrevista, o presidente do STF mostra por que não conseguiu ser juiz de Direito.
No meio da entrevista ao Estadão, instado a comentar a Lava Jato, Dias Toffoli primeiro fez os farisaicos elogios de praxe. Tão previsível quanto a chegada da primavera, disse que a operação colocou o combate à corrupção num patamar mais elevado, sobretudo por ter instalado na cadeia gente que parecia condenada à perpétua impunidade. Em seguida, o ministro estacionou na vírgula, sacou do coldre a adversativa e disparou a maluquice: “Mas a Lava Jato destruiu empresas. Isso nunca aconteceu nos Estados Unidos ou na Alemanha”.
A cada entrevista, o presidente do Supremo Tribunal Federal mostra que mereceu a reprovação com louvor nas duas tentativas de ingresso na magistratura paulista. Não pode ser juiz quem acha que o problema não está na roubalheira institucionalizada. Está na descoberta da ladroagem. É como culpar pela internação de um paciente na UTI não a gravidade da doença, mas a competência do médico que a diagnosticou.
O palavrório permite deduzir que o ministro acompanha os escândalos protagonizados por corruptos no resto do mundo com a mesma atenção que dispensa à língua portuguesa. Ele ignora, por exemplo, que a condenação de executivos pilantras não livra da falência as empresas que controlam.
Morreram de safadeza, por exemplo, os gigantes americanos Enron em 2001, WorldCom no ano seguinte e Lehman Brothers em 2008. Para escapar da bancarrota, a alemã Siemens pagou multas de dimensões amazônicas e disseminou pelo mundo inteiro o termo compliance — uma espécie de auditoria permanecente concentrada na prevenção de irregularidades.
Pelo jeito, Toffoli não sabe disso. Mas o que é mesmo que Toffoli sabe?
Augusto Nunes - Jornalista
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