quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O pseudo-humorista Duvivier sugeriu a hacker os nomes da alta cúpula da Globo

Em troca de mensagens, o humorista (?) diz a invasor que informação sobre a direção da emissora 'poderia ser bem forte'. 

O humorista Gregório Duvivier protagonizou conversas amistosas com o hacker Walter Delgatti Neto, responsável por roubar mensagens privadas de autoridades da República, e sugeriu nomes de figurões da Rede Globo como possíveis alvos das interceptações, segundo relatório da Polícia Federal encaminhado à Justiça Federal.
O primeiro contato entre Delgatti e Duvivier, diz a PF, ocorreu no dia 14 de julho de 2019. No computador do hacker foi encontrado um atalho chamado “GREGORIO DUVIVIER.Ink” com diálogos do humorista obtidos dentro do aplicativo Telegram. O teor das conversas foi encaminhado pelo hacker a Duvivier, que respondeu com ironia. “Feliz de conhecer o hacker”, disse no fim da manhã daquele dia 14 de julho.
Na troca de mensagens entre Delgatti e Duvivier, o humorista recebe a informação de que o teor das mensagens de autoridades hackeadas foi passado ao jornalista Glenn Greenwald por “livre e espontânea vontade” e, na sequência, estimula o hacker, afirmando que ele iria “mudar o destino do país” ao revelar as conversas impróprias de procuradores da Lava-Jato e do então juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro.
Na sequência, Duvivier pergunta se haveria algo de comprometedor contra a família do presidente Jair Bolsonaro – ou, em suas palavras, sobre a “família bolso”. Diante de uma resposta negativa, o comediante instiga o hacker sobre outras potenciais vítimas. “Tem algo da Globo?”, questiona Duvivier.
Na conversa, Walter Delgatti Neto diz que “tem bastante” informação envolvendo a emissora de televisão e afirma que “pega 50 por dia e acaba não lendo”. Em seguida, relata uma espécie de frustração. Diz que havia “pegado” o aplicativo do apresentador do Jornal Nacional William Bonner, mas não teve acesso a nenhum conteúdo, porque tudo havia sido apagado. Deletar mensagens era uma prática que “muita gente” utilizava, lamentou o hacker.
Duvivier continua indicando novos alvos globais como o diretor-geral de Jornalismo Ali Kamel e o diretor-geral da emissora Carlos Henrique Schroder e diz que informação sobre a cúpula da emissora “poderia ser bem forte”. O humorista ainda sugere que o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel e o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no estado, “poderiam ser alvos”.
De acordo com a Polícia Federal, não foram encontrados indícios de que Kamel, Schroder ou Witzel tenham sido vítimas de ações dos hackers. Marcelo Bretas e William Bonner, no entanto, acabaram caindo na rede de ataques, apesar de a invasão nos aparelhos celulares deles terem ocorrido em data anterior à sugestão de Duvivier. Na conclusão do inquérito, não há imputação de crimes a Gregório Duvivier.
Em depoimento aos investigadores da Operação Spoofing, o ator e humorista negou que tenha solicitado ou sugerido a invasão das contas de Telegram da cúpula da Rede Globo ou de autoridades do Rio de Janeiro. Segundo ele, seus questionamentos ao hacker eram motivados por “curiosidade” em saber se o invasor tinha tido acesso às contas de uma série de personalidades do cenário nacional.
Duvivier declarou que, durante a conversa com Delgatti, sugeriu diversos nomes de forma aleatória e disse que em nenhum momento recebeu mensagens ou qualquer informação das pessoas citadas por ele. Conforme a versão apresentada por ele à Polícia Federal, ele não tinha nenhum interesse em obter o conteúdo das mensagens de contas invadidas e em nenhum momento o hacker disse ter invadido a conta de Telegram de pessoas como Bonner ou Ali Kamel.
Gregório Duvivier apresentou à PF a cópia de um pendrive com todas as mensagens trocadas entre ele e o hacker Walter Delgatti Neto. Nelas, uma revelação sobre o comediante: a de que ele teria recebido orientações do jornalista Gleen Greenwald para que não encomendasse o nome de nenhuma autoridade para ser hackeada. Às 13:36:41, Duvivier é explícito sobre a orientação que recebeu: “nao tava pedindo pra investigar ninguem ta [sic]?”. Menos de um minuto depois, o ator faz nova ressalva: “glenn me explicou que nao posso nem falar nomes, haha”.

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