sábado, 15 de fevereiro de 2020

Moradores de rua em SP: números são uma coisa. Realidade, outra ✰ Artigo de J. R. Guzzo

Estão circulando com diversos graus de repercussão, no momento, levantamentos a respeito do aumento de “moradores de rua” em São Paulo – algo que teoricamente vale a pena anotar, levando-se em conta o fato de que se trata da maior cidade do país.
Os dados dizem que nos últimos quatro anos houve um aumento superior a 30% no número de crianças que não têm lar – crescem ao relento, sem a proteção de um teto. Pior ainda, segundo as mesmas pesquisas, seria o aumento geral na quantidade de gente que vive e dorme nas ruas de São Paulo.
Aí, no mesmo período, de 2015 para 2019, a cifra seria de 60%. Tanto um número quanto outro são sinais de uma crise.
São também um belo exemplo de como é preciso, sempre, olhar duas vezes para qualquer estatística antes de concluir que a realidade é assim ou assado. O aumento de 60% significa que há no momento, na vida real, cerca de 24.000 “moradores de rua” em São Paulo – numa população de 12 milhões de pessoas, em todo o município.
São 0,2% dos habitantes da capital paulista. As “crianças de rua”, com o aumento de 30%, teriam passado a exatas 664 – menos de mil, no meio de milhões. Eles aparecem muito, pois estão nos lugares mais visíveis e frequentados da cidade – mas a sua quantidade é essa, não mais.
O levantamento não indica, também, a porcentagem, entre essa população, dos que vivem na rua por opção, para não pagarem aluguel e viverem no lugar que melhor lhes convém, e de todos os que estão lá em consequência de problemas de alcoolismo, drogas, recusa de trabalhar e outros – ou seja, motivos que não têm nada a ver com um aumento da miséria. Números são uma coisa. Realidades são outra.
J. R. Guzzo - Jornalista

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