quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Uma questão de perspectiva ✰ Artigo de Fábio Jacques

Uma vaca leiteira passa a noite presa em um curral de dois a três metros quadrados. Pela manhã, após a ordenha, é solta no pasto onde pode se locomover à vontade dentro dos limites da propriedade rural. Aumentam os limites da sua prisão, mas ela continua igualmente presa, ainda que em sua mente bovina, talvez se julgue até mesmo, livre. À tardinha, voltará fatalmente para seu confinamento.
Esta introdução agropecuária serve como uma boa analogia do que acontece atualmente com o Lula.
Passou uma longa noite de 580 dias em uma sala na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, seu curral, e, por beneplácito de seus amigos e devedores da suprema corte, foi solto no campo para pastar um pouco, perambular e se imaginar livre. Mas, continua condenado e preso.
Trocou os 15 metros quadrados de Curitiba pelos 8.500.000 km quadrados do Brasil. Aumentou a cerca, mas a prisão continua exatamente a mesma.
Lula não tem mais liberdade. Os quatro carcereiros de Curitiba se multiplicaram por milhões. Agora ele sempre encontra um deles onde quer que esteja, a ponto de não poder e nem ter coragem de sair às ruas. Só se sente seguro quando escondido em casa ou nos encontros com seus seguidores lobotomizados, e assim mesmo continua ouvindo ao longe os gritos de “Lula ladrão, teu lugar é na prisão”. Perdeu completamente o direito de ir e vir e de roubar.
No último fim de semana, por exemplo, foi à sorrelfa à Paraty, cidade famosa pelo seu “Festival da Cachaça, Cultura e Sabores”, certamente para se esconder do povo brasileiro em algum refúgio seguro nesta cidade maravilhosa do litoral fluminense e aproveitar para entornar algumas centenas de “martelinhos” com as especialidades da região.
Não conseguiu. Descobriram onde ele estava e alguns “carcereiros” foram ao seu encontro gritando o mantra “Lula ladrão”. Houve grande confusão em frente ao seu bunker.
De nada adiantou sua soltura da cela de Curitiba. Ele continua presidiário em todo o lugar que vá assim como dentro dele mesmo.
Nos 580 dias de Curitiba, viveu momentos de Senhora Kerner, aquela personagem do filme “Adeus Lenin” que ficou em coma durante um ano durante o qual o muro de Berlin foi posto abaixo e que, para não provocar-lhe fortes emoções que poderiam leva-la à morte, o filho Alex decidiu mantê-la na ilusão de que a Alemanha Oriental continuava comunista e que nada havia mudado durante o ano em que estivera fora do ar.
Dentro da sua cela vip, Lula continuou a despachar com seus comparsas como se nada tivesse acontecido no Brasil. Não viveu a eleição de um governo de direita, não presenciou as calorosas aclamações populares em torno de Bolsonaro e de seus ministros, não viu minguarem os manifestantes de esquerda por falta de sanduíches e tostões, não viu a retomada, ainda que gradual, da economia, a queda dos índices de criminalidade ou o novo modo, para ele inimaginável, de governar sem o toma-lá-dá-cá. Não viu a aprovação da reforma da previdência e nem o atenuamento do Estatuto do Desarmamento. Não soube da quase eliminação das invasões de terras. Só viu aquilo que seus seguidores fiéis lhe contaram e saiu da carceragem pensando que continuava sendo o grande líder e que cairia diretamente nos braços do povo.
Enganaram o Lula Kerner. Ele não passa de um espectro do grande líder que já foi. Não tem mais poder nenhum. Não mobiliza mais ninguém.
A multidão que foi fazer plantão em frente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4)durante o julgamento da segunda instância do processo do sítio de Atibaia não passou de vinte gatos pingados. Seus comícios só são acompanhados pelos companheiros do partido e dos sindicatos e por alguns poucos populares ainda aliciados com o que sobrou de pão e mortadela.
Pobre Lula, “cavaleiro de triste figura” como diria Don Quixote. Os moinhos de vento não são mais dragões e nem o povo brasileiro é mais rebanho.
As coisas mudaram, “o tempo passou na janela e só o Lula não viu”.
Lula continuará ainda muito tempo perambulando como um zumbi até que chegue a hora de retornar para sua aconchegante cela prisional.
Talvez até já esteja com saudades dela.
Fábio Jacques

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