segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Zanin deve ao sogro seus 10 minutos de fama ✰ Artigo de Augusto Nunes

O casamento com a filha de João Havelange, que reinou por algumas décadas na Confederação Brasileira de Futebol e na Fifa, pavimentou o desvio percorrido por Ricardo Teixeira para sair do anonimato rumo à doce vida de supercartola. Graças ao sogro, chegou à sala do trono no prédio da CBF — e sobraçando os segredos dos cofres saqueados regularmente pelo chefão da vez e seus comparsas. Como retribuir tamanha graça alcançada? Usando a certidão de nascimento da filha, decidiu o genro.
Com a criatividade dos vigaristas, Teixeira revogou o tradição e a menina foi batizada de Joana Havelange. O homenageado se derreteu de emoção. Pai de uma única filha, o sogro não precisaria torcer pela vinda de um menino para eternizar o sobrenome. Joana, que também seria filha única, trataria de preservá-lo quando se tornasse mãe. Até que Teixeira rompesse o casamento, João Havelange vivia repetindo aos amigos que via no genro um filho exemplar.
Cristiano Zanin Martins estaria condenado ao eterno anonimato se não tivesse casado com a filha do advogado Roberto Teixeira, que virou um dos mais queridos amigos de Lula ao ceder-lhe gratuitamente o apartamento em São Bernardo ocupado anos a fio pela família do futuro presidente. Ali Lula descobriu como mora gente rica. Ali também aprendeu que é possível ser dono de imóveis sem perder tempo com regularização de escrituras. Ali acabou por tornar-se parceiro de Roberto Teixeira em negócios suspeitíssimos.
Como alguns desses negócios aconselharam o sogro a não assumir ostensivamente a defesa do amigo no esforço para livrá-lo das descobertas da Lava Jato, o genro virou advogado de Lula. Só por isso está vivendo seus 10 minutos de fama. Deveria ter abdicado do Zanin Martins para batizar algum filho apenas com o sobrenome Teixeira. Seria uma bonita homenagem. E uma forma de compensar o sumiço do Teixeira na certidão de nascimento de Joana Havelange.
Augusto Nunes - Jornalista

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